Resenha: Apanhador Só e Lemoskine

/ Por: Cleber Facchi 12/02/2011

Por: Cleber Facchi

Se os calendários apontam que em 2011 o carnaval só chega mesmo na primeira semana de março, pelo menos na noite de ontem, 11 de fevereiro, ele veio adiantado. As fitinhas penduradas no teto decorado do clube Sociedade Treze de Maio davam a entender que ali, naquela noite a folia teria inicio. E não foi por menos. O publico significativo que ali aguardava ao som de clássicos modernos do indie rock internacional e eram iluminados pela luz amarelada do estabelecimento, esperava sobre leve estado de embriagues pela chegada do quarteto gaúcho Apanhador Só, para que então a diversão pudesse de vez começar.

E se a noite era de carnaval, o show de abertura do Lemoskine veio então como uma comissão de frente, daquelas arrasadoras e que conquistam os jurados logo de cara. O projeto do curitibano Rodrigo Lemos, que contou com um repertório de faixas do seu último EP lançado em 2010, em nada ficou para traz quando comparado com o que era produzido em sua antiga e extinta banda, a Poléxia. O público que se concentrava nas laterais do palco cantava de maneira moderadamente inspirada faixas como Menina Laranja, A Noite dos Olhos de Vidro e Aos Garotos de Aluguel (essa de sua velha banda).

O ritmo agradável, proporcionado por uma banda coerentemente ensaiada fez com que mesmo as inúmeras microfonias e desníveis de áudio fossem completamente esquecidos ou no mínimo encarado com sorrisos. A presença de alguns nomes da cena alternativa curitibana, além do uso variado de instrumentos (com direito a um ukelele) contribuíram para o bom rendimento do pequeno show, através de faixas como Alice e Comece, que ganharam contornos nada modestos. Lemos não apenas esquentou a plateia presente como também mostrou o forte potencial de suas composições. Que venha mais do Lemoskine.

Após uma breve pausa para a montagem dos equipamentos, o ambiente escuro se iluminava com a apresentação do excelente clipe de Um Rei e o Zé, em que a banda vinha montada em trajes esportivos para um jogo de betz (!). E foi trajando as mesmas vestes (ou seriam fantasias?) que o quarteto subiu ao palco para retomar a euforia do clima carnavalesco que já estava instalado. De cara a banda manda Peixeiro, Pouco importa e o arrasa-quarteirões Prédio. Mesmo o público curitibano, que sempre se mantém dentro de uma postura fria em qualquer tipo de show, ali se mostrava enérgico e entoava em coro os versos de tais canções. E verdade seja dita: difícil não se motivar pelas letras de Alexandre Kupinski que ao vivo ganham uma dose de vivacidade muito maior do que a encontrada no já eficiente trabalho de estúdio.

Com Bem me Leve o público que já se exaltava a plenos pulmões tomou uma boa dose de fôlego para dizer “que sem eu aí não tem ninguém pra te aquecer”, numa espécie de auto-afirmação declarada coletiva. O clima que já estava bom ganhou definitivo ar de festa com a participação de Heitor Lipori e Heitor Humberto, ambos da Banda Gentileza, nas faixas Maria Augusta e Um Rei e o Zé. As duas canções contaram até com uma ciranda desengonçada no palco e o público empolgado que arriscava tímidos passos de dança.

Se o clima até ali parecia insuperável, eis que a banda volta inspirada com a dobradinha Jesus, o Padeiro e o Coveiro e Nescafé. Enquanto na primeira Felipe Zancaro (um Rodrigo Amarante jovial), Fernando Agra e Martin Estevez dissecaram seus instrumentos com uma experiência de gente grande, na segunda a belíssima letra entoada por Kupinski causa no mínimo emoção. Veio ainda a inédita Torcicolo, prova de que a criatividade do grupo não reconhece limites. O quarteto ainda presenteou o público com canções antigas e um mais do que excelente cover de Tom Zé, jogando o público de vez na folia.

Mas é com faixas derivadas do álbum de estreia que os gaúchos mostram mesmo a que vieram. O Tango-Indie Balão-de-Vira-Mundo, ao vivo se transforma em uma arma de disparar rifes e guitarradas ensurdecedoras, faixa em que Zancaro mostra mais uma vez que a aparência jovem de seu rosto esconde experiência e competência de um músico virtuoso.

A banda ainda completou com Vila do Meio-Dia, mais uma cantada em coro, por um público que em nenhum momento escondia a felicidade em soltar os trechos de “Laiá Laiá Laiá” ou para dizer que em seu quintal “parou de dar maracujá, uva e limão”. Da mesma forma que no disco, o show tem como canção derradeira E Se Não Der, cantada numa angústia de quem não quer que a festa tenha fim, mas infelizmente, assim como o carnaval veio mais cedo, a quarta-feira de cinzas também. Banda e público saem satisfeitos como se tivessem subido ladeiras, desfilado em blocos ou pulado a noite toda atrás de marchinhas carnavalescas. O carnaval deste ano veio mais cedo e veio com um enredo muito melhor.

Apanhador Só e Lemoskine
11 de Fevereiro de 2010, Sociedade Treze de Maio
Curitiba, Paraná

 

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.