Resenha: “Aprendiz do Sal”, Stella-viva

/ Por: Cleber Facchi 06/12/2016

Artista: Stella-viva
Gênero: Indie, Alternativo, Experimental
Acesse:  http://www.stellaviva.com.br/

 

Em uma medida própria de tempo, os integrantes do grupo curitibano Stella-viva passaram a última década se revezando na produção de pequenos experimentos e canções isoladas dentro de estúdio. Como resultado desse esforço coletivo, a construção de um delicado acervo de músicas marcadas pela singularidade dos arranjos e versos, ponto de partida para o primeiro álbum de estúdio da banda, Deus Não Tem Aviões (2011), e a base do recém-lançado Aprendiz do Sal (2016, Matraca Records / YB Music).

Minucioso, o trabalho produzido em um intervalo de quase um ano segue exatamente de onde o quarteto – Fernando Rischbieter (guitarra, teclado e voz), Matheus Barsotti (bateria e voz), Rafael Costa (baixo) e Sérgio Monteiro Freire (guitarra, teclados, saxofones e voz) – parou no último álbum de inéditas. Versos que flutuam em meio a guitarras econômicas, levemente dançantes, como uma extensão do samba-rock inicialmente testado pela banda.

Inaugurado pela fluidez sutil de Na Sombra, faixa de abertura do disco, Aprendiz do Sal resume logo nos primeiros minutos a “fórmula” conceitual que orienta grande parte do trabalho. Composições inicialmente serenas, contidas, mas que acabam encantando o ouvinte na lenta sobreposição de cada  elemento. Uma rica tapeçaria instrumental, delicadamente tecida em meio a arranjos complexos e vozes sempre crescentes, proposta evidente em cada uma das dez músicas do álbum.

Feito para ser apreciado em pequenas doses, Aprendiz do Sal faz de cada composição um objeto curioso, precioso. Fragmentos da poesia particular de Rischbieter que se espalham em meio a guitarras tortas, temas jazzísticos e pequenos diálogos com o samba. A cada novo passo dado no interior do disco, um convite para ir ainda mais longe, como se os experimentos entregues pela banda em Deus Não Tem Aviões fossem cuidadosamente ampliados.

Assim como nas canções de 2011, o quarteto se esquiva de rimas óbvias e versos fáceis durante toda a construção do registro. Salve exceções, como a acessível Trás-os-Montes – uma análise particular sobre a violência, progresso e personagens que habitam a pacata região de mesmo nome, em Portugal –, Aprendiz do Sal cresce em meio a versos cíclicos, como um complemento direto ao pano de fundo instrumental que movimenta o trabalho.

São composições montadas a partir de pequenas inquietações – “Tanta fé já escapou / Feito areia pelas nossas mãos / somos nós hoje os pais / ou seremos sempre filhos dessa mãe?”–, relacionamentos instáveis – “Nesse ardor que vai e vem / tantos olhares a contemplar” – e indagações – “Sempre na sombra de São Paulo / quem é que tá puxando o trem”. Uma fuga declarada do óbvio, fazendo do presente registro uma obra que exige ser desvendada.

 

Aprendiz do Sal (2016, Matraca Records / YB Music)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Tono, Pipo Pegoraro e Câmera
Ouça: Trás-Os-Montes, Ave Radar e Tempestade Anunciada

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.