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Críticas

Matheus Mota

: "As Palavras Voam"

Ano: 2017

Selo: Independente

Gênero: Indie, Pop Alternativo

Para quem gosta de: D Mingus e Séculos Apaixonados

Ouça: Vice Decorativo e Estava em Jogo o País

8.0
8.0

Resenha: “As Palavras Voam”, Matheus Mota

Ano: 2017

Selo: Independente

Gênero: Indie, Pop Alternativo

Para quem gosta de: D Mingus e Séculos Apaixonados

Ouça: Vice Decorativo e Estava em Jogo o País

/ Por: Cleber Facchi 21/07/2017

Matheus Mota é um artista que joga com regras próprias. Basta voltar os ouvidos para os dois últimos registros de inéditas do músico atuante na cena de Pernambuco, Desenho (2012) e, principalmente, o colorido Almejão (2014), para perceber a capacidade do jovem compositor em transformar melodias descomplicadas e versos sempre acessíveis em um curioso experimento com a música pop. Um cuidado que alcança melhor resultado no recente As Palavras Voam (2017, Independente).

Como o título do trabalho logo indica, trata-se de uma divertida experiência em que Mota adapta dentro de estúdio a famigerada carta de Michel Temer, então “vice-decorativo”, à ex-Presidente da República, Dilma Rousseff. “Comecei a cantarolar frases iniciais, percebi uma musicalidade em alguns trechos … É como uma parceira. Alguns músicos pegam poemas de Fernando Pessoa e musicam“, explicou ou músico em entrevista ao Extra.

Da “colaboração” com Temer, são apresentadas ao público seis composições que brincam com as confissões, tramas políticas e angústias do atual Presidente da República. Uma construção linear que tem início no emblemático trecho em latim Verba volant, scripta manent – “As palavras voam, os escritos permanecem” –, e segue até o último fragmento da escrita, com o cantor e compositor transformando a assinatura do material em um curioso componente poético.

Como elemento de união entre as canções, Mota e os parceiros de estúdio – Felipe Calado (guitarra), Caio Domingues (baixo), Luciano Emerson Leite (saxofone), Jonatas Onofre (voz), Gabriel Magalhães (guitarra, percussão) e Nelson Brederode (cavaquinho) –, se concentram na formação de melodias eletrônicas, pequenas quebras e curvas rítmicas. Ambientações versáteis que muito se aproximam do último registro de inéditas do cantor, lançado há três anos.

Um bom exemplo disso está na rico construção de Estava em Jogo o País. Terceira faixa do trabalho, a canção se espalha em meio a costuras jazzísticas, bases carnavalescas e encaixes eletrônicos que mudam de direção a todo instante, como se Mota garantisse ritmo à “poesia” complementar de Temer. Um pop torto que cresce de forma pegajosa na canção seguinte, Espionagem Americana, música que lembra o trabalho de Marcos Valle entre os anos 1970 e 1980.

Para o fechamento do trabalho, Mota reserva ao público a composição de quatro atos instrumentais – Proposta de Emenda Constitucional, Foro Privilegiado, Estação Espacial Internacional e Fim Dos Tempos –, detalhando uma espécie de resumo (ou previsão) dos eventos que sucedem a publicação da carta. Um encerramento seguro, sóbrio, como um respiro breve, ainda que questionador, para um trabalho que seria claramente cômico se não fosse trágico e real.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.