Resenha: Astronauta Pinguim e Subburbia

/ Por: Cleber Facchi 03/05/2011

Por: Cleber Facchi

Nem sempre boa vontade e um público cativo são sinônimos de um bom show, melhor exemplo disso foram as apresentações das bandas Astronauta Pinguim e Subburbia na noite de sábado (30 de abril) no Malagueta Snake Bar. Em meio a inúmeras tentativas (todas falhas) em dar vazão a um som límpido ou pelo menos audível, tanto o projeto paulistano quanto a banda de Curitiba foram obrigados a se acomodarem em uma sessão de vocais disformes, microfonias irritantes e instrumentações, que mais pareciam dignas de um show de noise rock do que dentro da inicial proposta dos artistas.

O relevante número de pessoas que se acomodavam nos espaços da casa – já tomados por suas bebidas e pela discotecagem diversificada, que ia do indie rock ao electro pop numa frequência convidativa – estavam mais do que ansiosos pelo inicio das apresentações, se aglomerando de forma crescente no mínimo espaço da pista de dança. Já era domingo, quando o primeiro dos nomes subia ao palco. Trajando sua tradicional vestimenta revestida por pequenas plumagens, dando significado ao nome que porta, o gaúcho Astronauta Pinguim daria sequência a uma apresentação, que se não fosse marcada pelos incômodos técnicos se revelaria um verdadeiro agrado aos ouvidos.

Fechado em meio a um confortável cerco de sintetizadores vintage o músico (acompanhado apenas de um baterista e um computador para dar sustentação às bases das canções) brincou como pôde com seus bips e frequências sintéticas, que atravessavam anos de referências musicais, buscando elementos embebidos na surf music, no krautrock de bandas como Can (principalmente) e Kraftwerk, além das ambientações climáticas de Brian Eno, que por conta da camada extra de ruídos pareceu reinventado ou desconstruído.

Entre abafadas composições vindas de seus primeiros registros e canções inéditas, que estarão em seu novo álbum, Pinguim aproveitou das boas doses de microfonias e ruídos ocasionais para fazer disso um tempero extra em sua apresentação. Durante quase uma hora de show, e inúmeras interferências na tentativa de solucionar os problemas do áudio, o gaúcho soube encarar tudo com bom humor enquanto aprisionava o pequeno público com suas reverberações levemente viajadas e acordes quase grudentos.

Se a barulheira descontrolada seria uma adversidade, o quarteto curitibano Subburbia fez das frequências inconvenientes um dos instrumentos de sua apresentação. O que deveria ser uma experiência no melhor estilo new wave acabou se convertendo em uma digna apresentação de noise pop feita pra botar bandas gringas no chinelo. Soando como uma espécie de Sleigh Bells brasileiro ou um Crystal Castles menos eletrônico, a banda demonstrou toda sua expertise, invertendo os problemas a seu favor.

Passava das três da manhã, e quem estava na pista (agora parcialmente preenchida) ainda dançava e tentava cantar acompanhando o ritmo da banda. O espaço pequeno não foi desculpa para que tanto o público quanto o vocalista E1000 se divertissem em meio a sintetizadores reconfigurados e guitarras no melhor estilo shogeaze. Os vocais meio cantados, meio gritados davam formas ao que parecia ser Muffin Top, The Fear, e demais hits do grupo, que em meio ao cenário caótico da noite ganhavam uma climatização ainda melhor do que a encontrada na versão de estúdio. Como o próprio vocalista disse mais tarde “A gente lida melhor com a podreira”, e eles estavam certos, afinal, toda aquela barulheira não foi tão ruim assim.

Astronauta Pinguim e Subburbia

30 de Abril de 2010, 22 horas
Local: Malagueta Snack Bar, Av, Munchen, 433, Centro

+ Fotos

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.