Resenha: “Atomic”, Mogwai

/ Por: Cleber Facchi 22/04/2016

Artista: Mogwai
Gênero: Post-Rock, Instrumental, Alternative
Acesse: http://www.mogwai.co.uk/

 

De filmes como Fonte da Vida (2006), do cineasta Darren Aronofsky, passando pelo documentário sobre o jogador Zinedine Zidane, até a delicada ambientação da série Les Revenants (2013), o Mogwai sempre lidou de forma assertiva com a produção de diferentes trilhas sonoras. Mais do que um material passivo, tecido com delicadeza ao fundo das imagens, um conjunto de obras marcado pela completa interferência dos arranjos, proposta que volta a se repetir em Atomic (2016, Rock Action), nono registro de inéditas da banda escocesa.

Feito “sob encomenda”, como parte da trilha de Atomic: Living in Dread and Promise (2015), mais recente trabalho do documentarista Mark Cousins, o registro de dez faixas e músicas marcadas por referências à energia nuclear e bomba atômica mostra um coletivo reformulado e inquieto. Com a saída do guitarrista John Cummings, em 2015, os sintetizadores ganham ainda mais destaque no interior da obra, como uma extensão do som apresentado há dois anos em Rave Tapes (2014).

De fato, grande parte do presente trabalho dialoga diretamente com o material produzido pela banda para o oitavo registro de estúdio. São bases climáticas, semi-psicodélicas e íntimas das ambientações testadas há mais de quatro décadas pelos veteranos do Krautrock. Uma interpretação sombria do mesmo conceito explorado em músicas como Heard About You Last Night e Remurdered, reforçando a base “eletrônica” que abastece criativamente a obra do grupo passado o lançamento de Hardcore Will Never Die, But You Will (2011).

A principal diferença em relação ao material entregue ao público em 2014 está na completa relação entre as faixas. Salve peças essencialmente melancólicas, como Little Boy e Are You a Dancer?, próximas ao encerramento do disco, durante toda a construção de Atomic, sintetizadores e bases homogêneas de guitarras se projetam de forma crescente, fazendo de cada faixa uma espécie de degrau para a música seguinte. O mesmo cuidado encontrado em clássicos como Rock Action (2001) e Mr. Beast (2006).

Ao fundo de cada composição, um mundo de texturas, maquinações sutis e pequenos fragmentos etéreos que dançam pela mente do ouvinte. De nuances minimalistas espalhadas pela inaugural Ether, passando pelo som robótico de U-235, até os pianos de Fat Man, música de encerramento do disco, difícil escapar do universo de detalhes “escondidos” pelo quarteto.

Com produção assinada pelo veterano Tony Doogan, parceiro da banda em clássicos como Happy Songs for Happy People (2003), Atomic mostra um grupo em plena evolução. Se há dois anos Rave Tapes nascia como um delicado esboço criativo, talvez imperfeito, com o presente álbum vemos uma tela completa, rica em detalhes. Por trás de cada faixa, um verdadeiro universo de arranjos complexos, sobreposições e curvas que mostram o quanto o tempo só trouxe benefícios ao trabalho do Mogwai.

 

Atomic (2016, Rock Action)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Explosions In The Sky, Mono e This Will Destroy You
Ouça: Ether, Fat Man e Little Boy

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.