Resenha: “Atrocity Exhibition”, Danny Brown

/ Por: Cleber Facchi 10/10/2016

Artista: Danny Brown
Gênero: Hip-Hop, Rap, Alternativo
Acesse: http://xdannyxbrownx.com/

 

É difícil escapar das canções de Atrocity Exhibition (2016, Warp). Do momento em que tem início até a última rima em Hell for It, faixa de encerramento do disco, Danny Brown e um time de produtores, músicos e compositores se desdobra na construção de um trabalho essencialmente dinâmico, intenso, marcado pelo peso das rimas e uso atento de samples. Uma versão menos eufórica e naturalmente segura do mesmo material apresentado há três anos, durante o lançamento do duplo Old (2013).

Inspirado em diferentes obras produzidas por veteranos do Pós-Punk, como Talking Heads, Sonic Youth e, principalmente, Joy Division — o próprio título do trabalho vem da faixa de abertura do segundo álbum em estúdio da banda inglesa, Closer (1980) —, Atrocity Exhibition talvez seja o registro em que o rapper de Detroit mais se aproxima do grande público. Um verdadeiro jogo entre as rimas de Brown e a produção polida do britânico Paul White, parceiro do rapper durante toda a construção da obra.

Mais conhecido pelo trabalho em parceria com Charli XCX, White transporta para dentro do disco a mesma atmosfera do ótimo True Romance (2013). Um álbum que prova de diferentes estilos e sonoridades, porém, em nenhum momento se distancia de um conjunto de regras pré-estabelecido. Uma constante sensação de que Brown conseguiu extrair o melhor dos três últimos álbuns de estúdio – The Hybrid (2010), XXX (2011) e Old (2013) – para dentro do presente registro.

Em Atrocity Exhibition, cada composição se destaca com naturalidade. O sample empoeirado de Lost, no melhor estilo Madlib; o ritmo acelerado de Ain’t It Funny, faixa que explora diferentes conflitos na vida de Brown – “Engraçado como isso acontece / Quem poderia imaginar / Que a piada é você / Mas Satanás é o único que ri”–; as guitarras de Golddust, faixa trabalhada em cima de um sample de People From Out the Space, música composta pelo grupo de rock progressivo alemão Embryo.

Mesmo os convidados ao longo do disco assumem um papel tão importante quanto o de Brown. Um bom exemplo disso está em Really Doe, música que conta com a profunda interferência de Kendrick Lamar, Ab-Soul e Earl Sweatshirt, responsáveis pela construção do ambiente urbano e caótico que caracteriza a faixa. Brown ainda conta com a presença de Petite Noir, na melancólica Rolling Stone, e Kelela, responsável pelo canto doce que circunda as rimas de From The Ground.

No restante do trabalho, a completa versatilidade de rapper. Enquanto faixas como When It Rain e Pneumonia apontam para o mesmo som explorado pelo artista em Old, efeito das rimas sujas e ambientação claustrofóbica, no restante da obra, Brown brinca com uma série de elementos íntimos da música pop, vide a pegajosa Dance In The Water, ampliando de forma curiosa uma série de elementos anteriormente testados em músicas mais acessíveis, como Grown Up.

 

rp_Danny-Brown-Atrocity-Exhibition1-compressed.jpg

Atrocity Exhibition (2016, Warp)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: SchoolBoy Q, Vince Staples e Earl Sweatshirt
Ouça: Really Doe, Ain’t It Funny e When It Rain

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.