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Críticas

Mitski

: "Be The Cowboy"

Ano: 2018

Selo: Dead Oceans

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: St. Vincent e Japanese Breakfast

Ouça: Nobody, Geyser e Two Slow Dancers

9.0
9.0

Resenha: “Be The Cowboy”, Mitski

Ano: 2018

Selo: Dead Oceans

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: St. Vincent e Japanese Breakfast

Ouça: Nobody, Geyser e Two Slow Dancers

/ Por: Cleber Facchi 22/08/2018

Imersa em conflitos existencialistas, relacionamentos fracassados e desilusões amorosas, Mitski Miyawaki acabou encontrando nos próprios versos um precioso refúgio criativo e sentimental. Canções sempre intimistas, transitando entre a fúria e o parcial recolhimento do eu lírico, conceito que vem sendo aprimorado pela cantora e compositora desde o primeiro álbum de estúdio, o pouco conhecido Lush (2012), mas que acabou ganhando novo significado durante o lançamento de Puberty 2 (2016), obra que se conecta ao recém-lançado Be the Cowboy (2018, Dead Oceans).

Quinto registro de inéditas na carreira da artista japonesa que cresceu em Nova York, Be the Cowboy, como o próprio título indica, é uma obra guiada em essência pela solidão dos versos. “Para este novo registro eu experimentei em termos de narrativa e ficção. A imagem de alguém solitário em um palco, cantando sozinho com um único holofote apontado uma sala escura”, disse em entrevista à Out. De fato, grande parte do trabalho gira em torno de um mesmo personagem sorumbático que buscam se reerguer depois de uma nítida experiência dolorosa. Um misto de dor, aceitação e busca declarada por renovação.

Exemplo dessa entrega ecoa com naturalidade logo na inaugural Geyser. “Você é meu número um / Você é aquele que eu quero / E você recusou / Cada mão que me chamou para vir … Embora eu seja um gêiser / Sinta borbulhando por baixo / Ouça, ligue, ouça, ligue / Ouça, ligue para mim / Constantemente“, canta em um fino exercício de autoaceitação e necessidade de seguir em frente, conceito anteriormente explorado durante o lançamento de Puberty 2. Frações poéticas que indicam a completa vulnerabilidade da artista, como um respiro doloroso após um período de forte instabilidade emocional.

A mesma força poética se reflete não apenas em um momento específico do disco, mas em cada fragmento sentimental que cresce em Be The Cowboy. Está no romantismo agridoce de Two Slow Dancers (“Seria cem vezes mais fácil / Se fôssemos jovens novamente / Mas é o que é“), nas confissões dolorosas de Pink in The Night (“Eu ouço meu coração quebrar durante a noite / Você também ouve isso? / É como um banho de verão / Com cada gota de chuva cantando“) e, principalmente, nas melodias cuidadosamente planejadas entre Miyawaki e o parceiro de longa data, o músico Patrick Hyland.

Nada que se compare à força avassaladora e completa melancolia que toma conta de Nobody. Enquanto a base instrumental da canção convida o ouvinte a dançar, costurando elementos da música disco, nos versos, Mitski se revela por completo, desabando de forma tão dolorosa quanto honesta. “E eu não quero a sua pena / Eu só quero alguém perto de mim / Acho que sou uma covarde / Eu só quero me sentir bem / E eu sei que ninguém vai me salvar / Eu só preciso de alguém para beijar / Dá-me um beijo honesto / E ficarei bem“, canta. Um fino retrato da poesia amarga que movimenta o trabalho da artista, direcionamento também evidente em Why Didn’t You Stop Me? e Remember My Name, faixas em que a voz de Miyawaki cresce desmedida.

Cuidadoso tanto na composição dos arranjos e versos como nos registros em vídeo e fina estética que orienta o trabalho — vide a belíssima imagem de capa —, Be Te Cowboy mostra que do ápice alcançado em Puberty 2, Mitski parece capaz de ir além, surpreendendo o ouvinte a todo instante. Produto das emoções e experiências que embalam o cotidiano da guitarrista, cada faixa do disco se revela como registro de valor inestimável, doloroso e reconfortante na mesma medida, síntese da vulnerabilidade e profunda entrega de sua realizadora.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.