Resenha: “Beijos”, Filipe Alvim

/ Por: Cleber Facchi 17/11/2016

Artista: Filipe Alvim
Gênero: Indie, Lo-Fi, Alternativo
Acesse: https://filipealvim.bandcamp.com/

Foto: Tamires Orlando

Romântico, cafona, sensível. Em Beijos (2016, Pug Records), primeiro álbum de inéditas em três anos, o cantor e compositor mineiro Filipe Alvim faz de cada composição ao longo do registro um fragmento marcado pela confissão. Entre sussurros melancólicos (“Você pensa que está bom / Mas podia estar melhor”) e versos essencialmente intimistas (“Você tem / O poder / Sobre mim”), a construção de um trabalho que parece feito para grudar na cabeça do ouvinte.

Inaugurado pelos dramas e versos atormentados de Vida Sem Sentido, faixa de abertura do disco, o sucessor de Zero EP (2013) mais uma vez posiciona Alvim como personagem central de uma obra marcada pela desilusão. Enquanto os arranjos de guitarra se desmancham lentamente, revelando um som empoeirado, íntimo dos trabalhos de Mac DeMarco e outros românticos do rock atual, uma solução de versos amargos aponta a direção seguida em grande parte do trabalho.

Dividido entre músicas rápidas e versos arrastados, sempre dolorosos, Alvim joga com os sentimentos – dele e do próprio ouvinte. São versos curtos, sequências de duas ou três palavras, como se o cantor brincasse com o significado oculto em cada uma das canções. Declarações de amor, medos e delírios que se entrelaçam em meio ao movimento rápido das guitarras, tão íntimas do pop rock dos anos 1980, quanto de novatos como Connan Mockasin e Séculos Apaixonados.

Ela é poderosa / Me fascina / Ela é poderosa / Me deixa ficar”, desaba em Poderosa, música que flutua entre a submissão e a libertação do eu lírico. Em Jaula, sexta faixa do disco, retalhos poéticos e pequenas indecisões – “Não perde / Não volta / Não cola / Amassa / Abafa / Sufoca”. Na rápida Cama Redonda, uma letra que se divide entre o tédio (“Nesse bode de hoje eu fiquei”) e a melancolia (“Perdi o gosto das coisas”). Diferentes conflitos de um mesmo personagem.

Faixa que mais se distancia dessa universo, a ensolarada Miragem talvez seja o grande ponto de acerto do trabalho. Enquanto guitarras e melodias eletrônicas dançam na cabeça do ouvinte, nos versos, Alvim surge esperançoso, quase sorridente. “O que eu preciso é de uma estrada quente / Pra quem sabe que correr é / Tanto faz se eu não parar / Tanto faz”, canta, corrompendo a angústia estampada nos primeiros versos da mesma canção – “O que eu tenho é uma casa fria / Onde o vento bate e faz estrago”.

Cravejado de hits – vide músicas como Poderosa, Miragem e Vida Sem Sentido –, Beijos reflete o claro amadurecimento de Filipe Alvim em relação ao trabalho apresentado há três anos. Ainda que a atmosfera “caseira” do trabalho seja a mesma, distanciando o registro de uma polidez comercial, íntima do grande público, difícil não ser arrastado pela sequência de confissões românticas, versos atormentados e guitarras versáteis que abastecem o disco do primeiro ao último instante.

 

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Beijos (2016, Pug Records)

Nota: 8.2
Para quem gosta de: Duplodeck, Mac DeMarco e Lê Almeida
Ouça: Miragem, Vida Sem Sentido e Poderosa

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.