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Críticas

Bolerinho

: "Bolerinho"

Ano: 2018

Selo: Independente

Gênero: Indie, Experimental, Pop Alternativo

Para quem gosta de: Ava Rocha, Iara Rennó e Luiza Lian

Ouça: Necrópsia do Nosso Caso de Amor e Ela

7.7
7.7

Resenha: “Bolerinho”, Bolerinho

Ano: 2018

Selo: Independente

Gênero: Indie, Experimental, Pop Alternativo

Para quem gosta de: Ava Rocha, Iara Rennó e Luiza Lian

Ouça: Necrópsia do Nosso Caso de Amor e Ela

/ Por: Cleber Facchi 01/08/2018

Dos encontros entre Luisa Toller e Maria Beraldo na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em 2007, veio o desejo de formar um projeto em que a dupla, na época acompanhada por Lívia Nestrovski, pudesse externalizar as próprias experiências e conflitos internos em forma de música. Veio daí a primeira formação do trio Bolerinho — o nome vem da peça de roupa que Toller usava bastante na época em que o grupo foi montado. Um espaço aberto ao compartilhamento de ideias e referências pessoais, porém, temporariamente silenciado por conta de outros projetos de suas integrantes. Pelo menos até agora.

Hoje, em nova formação — Nestrovski deixou o trio e mudou-se para o Rio de Janeiro —, o grupo, completo pela presença de Marina Beraldo Bastos, irmã de Maria, entrega ao público o primeiro registro de estúdio da carreira. Autointitulado, o trabalho de dez faixas joga com os sentimentos e experiências particulares de cada realizadora, cuidado que se reflete não apenas na poesia intimista que serve de alicerce para o disco, mas, principalmente, a rica base instrumental da obra.

Na contramão de outros projetos da cena paulistana inclinados à revisitar a música de vanguarda dos anos 1970/1980, o trio joga com o incerto. São variações eletrônicas, sempre minimalistas, que parecem dialogar com a obra de Björk (Alumiada); sintetizadores e batidas que se entrelaçam de forma complementar, servindo de alicerce para a formação dos versos (Ela); além de faixas marcadas pela profunda leveza dos arranjos, sempre sensíveis, como uma passagem para o campo do onírico (Rayraí). Pequenas variações estéticas que auxiliam na lenta construção da identidade musical do grupo.

Ainda que siga por uma caminho particular, difícil não pensar no álbum inaugurado pela agridoce Necrópsia do Nosso Caso de Amor como uma fina continuação do material entregue por Maria Beraldo há poucos meses, durante a produção do primeiro disco em carreira solo, Cavala (2018). Composições que guiadas pela identidade feminina, maternidade real, saída do armário, desconstrução de gênero e morte. Não por acaso, duas das principais faixas do registro, Da Menor Importância e Amor Verdade, foram originalmente apresentadas na estreia de Beraldo. A diferença está na forma cada trabalho se projeta e parece dialogar com o ouvinte.

Enquanto Cavala surge furioso, galopando em meio a batidas e guitarras eletrônicas, a estreia do trio Bolerinho ganha forma aos poucos, contido. Canções entregues ao público em pequenas doses, sempre curiosas e detalhistas. Exemplo disso está em Ela, composição em que as vozes lançadas pelo trio se projetam como instrumentos, oscilando entre instantes de breve recolhimento e sobreposições grandiosas. Mesmo faixas “menores”, como a divertida Bichin, colaboração com Rafael Menezes Bastos, revela um mundo de detalhes, postura reforçada até a cômica Bolerê, faixa de encerramento do disco.

Colorido mosaico de ideias, o trabalho que ainda conta com produção assinada por Mariá Portugal e Ivan Gomes, parece muito mais um conjunto de experiências pessoais e recortes momentâneos do que um registro completo em si, fechado dentro de uma única proposta. São interpretações musicadas de tudo aquilo que o trio vem experimentando (dentro e fora de estúdio) nos últimos 11 anos, desde que o projeto foi criado. Frações da alma feminina que se entrelaçam sem pressa, como um convite a se perder em um universo particular do grupo.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.