Image
Críticas

Monza

: "Bonsai"

Ano: 2018

Selo: Freak

Gênero: Indie Rock, Dream Pop

Para quem gosta de: Terno Rei e Ombu

Ouça: Travessa, Bem e Japão

7.8
7.8

Resenha: “Bonsai”, Monza

Ano: 2018

Selo: Freak

Gênero: Indie Rock, Dream Pop

Para quem gosta de: Terno Rei e Ombu

Ouça: Travessa, Bem e Japão

/ Por: Cleber Facchi 01/10/2018

Entre confissões românticas e pequenas desilusões sentimentais, os integrantes da banda paulistana Monza fizeram do primeiro álbum de estúdio, Hoje Foi Um Dia Fantástico (2016), a passagem para um universo guiado pelas emoções. Dois anos após o lançamento do delicado registro, Felipe Misale (guitarra e voz), Fábio Leão (baixo), Francisco Fernandes (guitarra) e Luca Galego (bateria) estão de volta com um novo exercício autoral, Bonsai (2018, Freak), obra que não apenas preserva, como amplia a poesia melancólica que sutilmente vem sendo explorada pela quarteto.

Das histórias mal contadas / Que nunca vão além / Das mentiras maltratadas / Que eu conto pra você / Você falou demais, eu falei demais“, reflete Misale logo na inaugural Travessa, composição escolhida para anunciar o registro e uma síntese dolorosa de tudo aquilo que a banda reserva ao ouvinte no decorrer do trabalho. Composições ancoradas em memórias entristecidas, conflitos sentimentais e pequenos desencontros que corrompem de maneira inevitável qualquer forma de relacionamento, proposta que se reflete com naturalidade até o último fragmento poético do disco, na crescente Se Eu Não Voltar.

São instantes de pura melancolia em que o eu lírico confessa as próprias emoções com uma naturalidade tocante, estreitando a relação com ouvinte. Exemplo disso está no canto triste que invade a dolorosa Zero (“Dois menos um é você / Eu sem você sou zero … Eu já paguei pra ver / Eu já quebrei a cara / E você sabe bem / Jeito de perder de lavada“) ou mesmo na poesia amarga de Bem (“Já sei, faz tempo / Que não te vejo aqui / Mas imagino você vivendo / Bem / Sem ninguém“), composições marcadas pelo lento distanciamento entre os indivíduos, conceito que vem sendo aprimorado desde o álbum anterior.

Interessante notar que mesmo doloroso, Bonsai está longe de parecer uma obra arrastada ou minimamente inacessível, difícil de ser absorvida pelo público. Pelo contrário, poucas vezes antes o som produzido pela Monza pareceu tão próximo do ouvinte médio quanto no presente álbum, cuidado que se reflete a cada nota, arranjo ou guitarra que sutilmente flutua ao longo da obra. Prova disso está na já citada Travessa, composição em que o quarteto silencia os versos para investir na construção de uma preciosa paisagem instrumental, lembrando o trabalho de estrangeiros como Real Estate e DIIV.

Quarta faixa do disco, Leve é outra que encanta pelo cuidado na composição dos arranjos e versos. Entre guitarras vagarosas que dialogam com o dream pop de grupos como Terno Rei e Raça, a voz de Misale ganha forma aos poucos, derramando versos consumidos pelas emoções – “Penteio o cabelo, só pra te encontrar / Esqueço o isqueiro, que é pra te ligar / Arrisco um beijo, sem me preocupar / Em como vai ser, se a gente voltar atrás“. Na faixa seguinte, Japão, a mesma entrega sentimental, porém, dentro de uma nova estrutura, agora guiada pela inserção de guitarras pontuais e batidas eletrônicas, sempre precisas.

Produto das emoções e sentimentos confessos da banda, Bonsai avança em relação ao material entregue há dois anos, crescendo como uma obra de essência palatável. Basta uma rápida audição para que músicas como Zero, Travessa e Bem continuem ecoando na cabeça do ouvinte, se dificuldades, reflexo do cuidado de cada integrante da banda na composição da base melódica que serve de sustento ao disco. Pouco menos de 30 minutos em que cada fragmento do álbum parece pensado para dialogar com as experiências mais sensíveis de todo e qualquer ouvinte.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.