Resenha: “Boy King”, Wild Beasts

/ Por: Cleber Facchi 08/08/2016

Artista: Wild Beasts
Gênero: Alternative, Art Rock, Indie
Acesse: http://wild-beasts.co.uk/

 

Desde o lançamento de Two Dancers, em 2009, que os integrantes do Wild Beasts vêm dando voltas em torno de uma mesma atmosfera criativa. Ambientações minimalistas que dialogam com a música produzida no final da década de 1970, letras marcadas por referências literárias e temas existencialistas. Um estímulo para a construção do delicado Smother (2011), além da explosão de cores e possibilidades em Present Tense (2014), mas que acaba assumindo um novo direcionamento dentro do quinto e mais recente álbum de inéditas da banda, Boy King (2016, Domino).

Livre do romantismo doloroso que marca as canções do trabalho apresentado há dois anos, o novo disco mostra a busca do quarteto – formado por Hayden Thorpe, Ben Little, Chris Talbot e Tom Fleming – em produzir um som essencialmente dançante, leve, mas não menos provocativo. Da abertura crescente, em Big Cat, passando pelo funk robótico de Get My Bang e o labirinto melódico que cresce no interior de Celestial Creatures, um mundo de possibilidades se revela dentro do presente disco.

Entregue ao público como um registro conceitual, uma análise detalhada sobre a masculinidade e pequenas obsessões que invadem a cabeça do “homem moderno”, Boy King pela primeira vez afasta o quarteto de Kendal do som intimista que orienta grande parte das composições nos últimos trabalhos. São versos marcados pelo uso ativo de metáforas, forte sexualidade impregnada nas letras e temas urbanos, por vezes raivosos, como um novo grupo acabasse de nascer.

Parte dessa explícita transformação está na ativa interferência de John Congleton como produtor do disco. Mais conhecido pelos trabalho em parceria com artistas como Swans e St. Vincent, o músico norte-americano parece ser o grande responsável pelo maior peso das guitarras e batidas firmes que sustentam o disco. Durante toda a audição da obra é possível encontrar uma série de referências aos registros assinados por Congleton, vide as guitarras funkeadas de Alpha Female, íntimas do álbum lançado em 2014 por St. Vincent, além, claro, dos ruídos que crescem em He Te Colossus.

Outro ponto curioso do trabalho diz respeito ao uso de samples instalados em pontos estratégicos da obra. O loop climático em Get My Bang, a voz reconfigurada em Ponytail e todo o rico catálogo de fragmentos instrumentais que se espalha do primeiro ao último instante da obra. Um claro complemento ao som versátil que escapa dos sintetizadores, como uma versão ampliada do mesmo material apresentado há cinco anos durante a construção de Smother.

Inspirado pela essência musical dos anos 1980, Boy King lentamente incorpora uma série de elementos que vão da obra de Prince até conterrâneos como David Bowie e, principalmente, o Talk Talk pré-Spirit of Eden (1988). Como todo álbum do grupo britânico, o presente disco é um trabalho que não se revela por inteiro logo em uma primeira audição. É necessário tempo para absorver todas as texturas instrumentais, letras complexas e ambientações ocultas que se escondem e crescem no interior da obra, complexa e musicalmente acessível em uma medida exata.

 

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Boy King (2016, Domino)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Everything Everything, These New Puritans e Foals
Ouça: Get My Bang, Celestial Creatures e He The Colossus

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.