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Críticas

Camila Cabello

: "Camila"

Ano: 2018

Selo: Epic / Syco / Sony

Gênero: Pop, R&B

Para quem gosta de: Selena Gomez, Demi Lovato e Taylor Swift

Ouça: Never Be The Same, Into It e Real Friends

7.5
7.5

Resenha: “Camila”, Camila Cabello

Ano: 2018

Selo: Epic / Syco / Sony

Gênero: Pop, R&B

Para quem gosta de: Selena Gomez, Demi Lovato e Taylor Swift

Ouça: Never Be The Same, Into It e Real Friends

/ Por: Cleber Facchi 15/01/2018

A história da música pop está repleta de artistas que encontraram na fuga de antigos projetos – girlbands/boybands e coletivos montados por gravadoras –, a oportunidade para crescer musicalmente. Nomes como o hoje veterano Justin Timberlake, Tinashe, Dawn Richard e, mais recentemente, o britânico Harry Styles com o bem-sucedido homônimo debute em carreira solo. Um fino exercício de amadurecimento que se reflete com naturalidade em cada uma das dez composições montadas para o primeiro álbum de estúdio da ex-integrante do Fifth Harmony, a cubana Camila Cabello.

Concebido sem pressa e pensado como um registro conceitualmente homogêneo, Cabello e o produtor Frank Dukes (Kanye West, Lorde) passaram grande parte do último ano debruçados na produção de cada fragmento do disco. Não por acaso, diversas composições gravadas nesse intervalo, como Crying In The Club, acabaram descartadas no corte final do trabalho. O resultado está na formação de uma obra concisa, rápida, mas não menos sensível e feita para capturar a atenção do público, como uma fuga do universo de pequenos excessos e álbuns que mais parecem playlists para aumentar a rentabilidade do artista nas plataformas de streaming.

Você conhece esses álbuns onde algumas músicas claramente não são tão boas quanto os singles. Eu quero cada faixa possa ser um single“, disse em entrevista à MTV. De fato, basta uma rápida audição para perceber o cuidado na escolha de cada composição. Dos sentimentos expostos em Never Be the Same (“Tal como nicotina, heroína, morfina / De repente, sou uma viciada e você é tudo o que preciso“), ao jogo de batidas rápidas na derradeira Into It, música que poderia facilmente estar em Melodrama (2017), de Lorde, com quem Dukes colaborou recentemente, a estreia solo de Cabello parece pensada para seduzir o ouvinte.

Entre melodias descomplicadas, passagens breves pelo R&B e canções que vão de ritmos latinos à dancehall, Cabello parece longe de possíveis tropeços. Em busca de um hit fácil? Mergulhe de cabeça na atmosfera dançante da já conhecida Havana, parceria com o rapper Young Thug. Em Consequences, um pop limpo, dolorosamente esculpido, como se Cabello adentasse o mesmo território intimista de Mariah Carey no início dos anos 1990. Marcada pela força dos sentimentos, In The Dark, nona faixa do disco, nasce como um reflexo da alma atormentada da própria artista – “Eu posso ver que você tem medo de suas emoções … Quem é você no escuro? (eu, eu) / Mostre-me as partes assustadoras (eu, eu)” –, como um encontro entre Tylor Swift e Carly Rae Jepsen.

Nada que se compare ao cuidado de Cabello na construção de Real Friends. Embalada pela inserção de arranjos econômicos, lembrando Justin Bieber em Love Yourself, a cantora aproveita da faixa para refletir não apenas sobre a desgastada relação com as ex-parceiras do Fifth Harmony (“Só estou procurando por alguns amigos reais / Tudo o que sempre fizeram foi me decepcionar“), como parte expressiva da comunidade de Los Angeles e a indústria que a cerca. “Esta música é sobre se sentir solitária e desiludida pelas pessoas em LA enquanto estava longe de casa“, explicou na própria conta do Twitter, cuidado também evidente na faixa seguinte do disco, a dolorosa Something’s Gotta Give.

Longe de parecer uma obra revolucionária, a estreia de Camila Cabello apenas cumpre seu papel como um precioso exemplar da música pop recente. Salve a sutil inserção de temas latinos em pontos estratégicos do disco, não há nada aqui que outros nomes do gênero não tenham experimentado anteriormente. Entretanto, ao concentrar seus esforços na produção de uma obra econômica e propositadamente restrita, Cabello e o parceiro Frank Dukes entregam ao público que se esquiva de prováveis exageros, fazendo de cada composição um olhar curioso sobre a alma e os sentimentos mais honestos da artista.

 

Com a colaboração com Vitor Ramos (@queijodepao).

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.