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Críticas

Saba

: "Care For Me"

Ano: 2018

Selo: Saba Pivot

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Chance The Rapper e Earl Sweatshirt

Ouça: Busy / Sirens, Fighter e Smile

8.3
8.3

Resenha: “Care For Me”, Saba

Ano: 2018

Selo: Saba Pivot

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Chance The Rapper e Earl Sweatshirt

Ouça: Busy / Sirens, Fighter e Smile

/ Por: Cleber Facchi 18/04/2018

Sem pressa, Tahj Malik Chandler passou os últimos seis anos se revezando em uma série de colaborações e obras autorais. Sob o título de Saba, o rapper norte-americano contribuiu para diferentes de músicas em parceria com Chance The Rapper – como Everybody’s Something, da mixtape Acid Rap (2013), Angels e SmthnthtIwnt, uma das canções produzidas para o debute do coletivo Donnie Trumpet & The Social Experiment, Surf (2015). Surgem ainda encontros com Noname (Shadow Man), Joey Purp (Cornerstore) e toda uma variedade de registros em carreira solo, entre eles, o bom Bucket List Project, de 2016.

Curioso perceber em Care For Me (2018, Saba Pivot), trabalho em que o rapper mais se distancia desse colorido universo de referências, um nítido ponto de amadurecimento conceitual e poético. Trata-se de uma obra diminuta, por vezes claustrofóbica, como uma interpretação instrumental e lírica da imagem em preto e branco que estampa a capa do disco. Um produto da angústia, medos e completo isolamento do eu lírico/protagonista da obra.

Eu estou tão sozinho … Desde a adolescência não me sentia tão estranho / Eu não sei há quanto tempo estou deprimido“, rima logo nos primeiros minutos do disco, em Busy / Sirens, colaboração com o rapper theMIND em que reflete sobre a morte de amigos próximos, a própria melancolia e a inevitável solidão de qualquer indivíduo. Uma solução de rimas existencialistas, amargas, conceito que se amplia durante toda a execução da obra, como se Saba mergulhasse no mesmo ambiente cinza de Earl Sweatshirt, em Doris (2013) e Frank Ocean, com Nostalgia, Ultra (2011).

A mesma angústia ecoa com naturalidade em Fighter, colaboração com a cantora Kaina em que Saba detalha as incontáveis brigas que teve ao longo da vida – incluindo contra ele mesmo. “E eu andei o resto do dia com a cabeça baixa / Engraçado como a sua pancada vai se espalhando / Mas eu não quero mais lutar / Porque eu não sou um lutador, eu não faço mais guerra“, rima enquanto ambientações minuciosas se espalham ao fundo da canção, lembrando o mesmo instrumental hip-hop que vem sendo produzido por Flying Lotus e Clams Casino e demais produtores da cena norte-americana.

É justamente essa atmosfera minimalista e densa que contribui para o completo fortalecimento da obra. São ambientações soturnas que flertam com o jazz, como em Life e Grey, colidem diferentes fórmulas instrumentais, vide a base torta de Prom / King, ou mesmo se entregam ao pop, caso de Smile, música em que Saba resgata parte da atmosfera detalhada no debute do Donnie Trumpet & The Social Experiment. Inserções minuciosas que servem de complemento aos versos, reforçando a melancolia fina que sutilmente se espalha por entre as faixas.

Mesmo pontuado pela breve interferência de um time seleto de colaboradores, como Chance The Rapper em Logout, Care For Me, como o próprio título indica, em nenhum momento se distancia do personagem real interpretado pelo artista. São fragmentos extraídos do cotidiano do rapper, memórias e desilusões, como se da breve exposição em Bucket List Project, Saba fosse além, tratando de cada música um produto extraído das próprias emoções.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.