Resenha: “Care”, How To Dress Well

/ Por: Cleber Facchi 27/09/2016

Artista: How To Dress Well
Gênero: R&B, Alternativo, Indie
Acesse:  http://howtodresswell.com/

 

Tom Krell há muito deixou de ser o mesmo artista que foi apresentado ao público durante o lançamento de Love Remains, em 2010. Distante dos ruídos, experimentos e temas atmosféricos que serviram de base para todo o primeiro registro de inéditas como How To Dress Well, o cantor e produtor norte-americano decidiu seguir em busca de um som cada vez mais íntimo do R&B/pop, proposta que volta a se repetir nas canções do quarto álbum de estúdio, Care (2016, Domino).

Primeiro registro de Krell desde o elogiado “What Is This Heart?” (2014), obra-prima do artista, o disco de 12 faixas mostra a busca do produtor por um som cada vez menos complexo, acessível, por vezes íntimo de uma parcela ainda maior do público. Da abertura do trabalho, em Can’t You Tell, passando pela construção de músicas como The Ruins e I Was Terrible, fragmentos e versos essencialmente radiofônicos, como uma versão “simplificada” do material entregue há dois anos.

Claramente inspirado pela música de Janet Jackson e Mariah Carey no começo dos anos 1990, Krell faz do presente disco uma coleção de temas e fragmentos essencialmente românticos. “Eu digo que eu sei o que é amor agora … Mas, em seguida, o segundo que eu abrir a minha boca / Meu coração vai mudar novamente”, canta em Lost Youth/Lost You, música que sintetiza a poesia atormentada e parte das confissões sentimentais do artista, delicado a cada novo fragmento de voz.

Encantador, certo? O problema é que Krell vem explorando esse mesmo conceito desde o segundo álbum de estúdio, o romântico Total Loss (2012). Da limpidez das batidas ao delicado uso de sintetizadores, pouco do material produzido dentro do presente disco se distancia do som pensado para os dois últimos registros do cantor. Falta novidade, como se o músico fosse incapaz de ir além do mesmo som arquitetado para músicas como Cold Nites e Repeat Pleasure.

Mesmo alimentado por uma sequência de grandes composições, caso de What’s Up, canção marcada pelo uso de sintetizadores nostálgicos e batidas levemente dançantes, Care aos poucos se perde em meio a faixas completamente descartáveis, monótonas. A longa duração de algumas músicas, caso de Salt Song, segunda faixa do disco, acaba prejudicando o rendimento do trabalho. Uma explícita ausência de ritmo, como se Krell desse voltas e mais voltas dentro de um mesmo ambiente criativo.

Com produção e parte dos instrumentos gravados por Krell, Care acaba pecando pelos excessos e completa desorganização das faixas. No interior de cada faixa, um verdadeiro catálogo ideias, pequenas quebras rítmicas, fórmulas, recortes e colagens instrumentais, como se o produtor buscasse amarrar diferentes composições dentro de uma mesma faixa, fazendo da audição do registro um exercício completamente penoso, arrastado.

 

Care (2016, Domino)

Nota: 6.0
Para quem gosta de: Autre Ne Veut, Active Child e Blood Orange
Ouça: Can’t You Tell, What’s Up e I Was Terrible

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.