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Críticas

Cícero

: "Cícero & Albatroz"

Ano: 2017

Selo: Sony Music

Gênero: Indie, Alternativa, MPB

Para quem gosta de: Los Hermanos e Baleia

Ouça: A Cidade e Não Se Vá

8.0
8.0

Resenha: “Cícero & Albatroz”, Cícero

Ano: 2017

Selo: Sony Music

Gênero: Indie, Alternativa, MPB

Para quem gosta de: Los Hermanos e Baleia

Ouça: A Cidade e Não Se Vá

/ Por: Cleber Facchi 11/12/2017

Criativamente inquieto, Cícero Rosa Lins fez de cada novo registro de inéditas um continuo desvendar da própria identidade musical. Do som acústico e artesanal que marca o elogiado debute Canções de Apartamento (2011), passando pelas experimentações em Sábado (2013), até alcançar as ambientações eletrônicas e melodias ensolaradas nas canções de A Praia (2015), um mundo de pequenas possibilidades se revela dentro de cada experimento testado dentro de estúdio, fazendo da constante mutação a principal marca do cantor e compositor carioca.

Com Cícero & Albatroz (2017, Sony Music) não poderia ser diferente. Quarto álbum de inéditas do músico e primeiro registro da parceria com a banda Albatroz – coletivo formada por Bruno Schulz, Uirá Bueno, Gabriel Ventura, Cairê Rego, Felipe Pacheco Ventura, Vitor Tosta e Matheus Moraes –, o trabalho de dez faixas encontra na grandeza dos arranjos, versos e vozes o principal componente criativo para as canções. Uma fusão de elementos que prova de diferentes ritmos e sonoridades, porém, sustenta na poesia singular de Lins um precioso elemento de conexão.

Claramente pensado para as apresentações ao vivo do cantor, Cícero & Albatroz sustenta na utilização de uma arquitetura crescente a base instrumental para a parte expressiva da obra. Uma fórmula que se revela na percussão marcada logo nos primeiros segundos – vide Aurora Nº 1 –, se espalha em um colorido arranjo de metais – como em A Ilha e A Rua Mais Deserta –, e segue em meio a vozes em coro, guitarras, cordas e demais elementos que dançam em torno da voz de Lins. Um som grandioso, por vezes pop, como se o músico dialogasse com uma parcela ainda maior do público.

Exemplo disso está na pegajosa Não Se Vá. Enquanto os pianos de David Rosenblit estabelecem a base da canção, guitarras pontuais, vozes duplicadas e violinos assinados por Felipe Pacheco Ventura conduzem o ouvinte pelo interior de uma faixa marcada pela força dos sentimentos. “Cuida dela / Deixa o peso / Vai com ela / Ver o dia aceso / Todo dia é um dia a menos, saiba, irmão / Quando eu saí de casa eu perdi meu cão / A vida é assim mesmo“, canta Cícero enquanto a canção explode em melodias e cores, lembrando a boa fase do Los Hermanos no álbum Ventura (2003), referência também exaltada na faixa seguinte do disco, À Deriva.

Curioso perceber na densa A Cidade, quinta faixa do disco, uma parcial corrupção desse conceito festivo que rege grande parte do trabalho. Trata-se de um samba torto, pessimista, como se o músico carioca resgatasse de forma particular a mesma temática urbana de Chico Buarque no clássico Construção (1971). Versos e arranjos sutilmente sobrepostos, detalhando a base ruidosa que cresce de forma catártica nos instantes finais da canção. Um lento desvendar de sensações, conceito que se repete com a mesma maestria na derradeira Um Arco, música que transporta o som intimista de Sábado para um novo território.

Passo além em relação ao material que vem sendo produzido desde a estreia com Canções de ApartamentoCícero & Albatroz mostra um artista em pleno domínio da própria obra. É como se o cantor e compositor carioca soubesse exatamente o que produzir para acertar em cheio o próprio público. Instantes em que Lins vai da serenidade melancólica de Aquele Adeus e Velho Sítio à explosão dos arranjos e vozes que toma conta de faixas como A Ilha e Não Se Vá, fazendo do quarto registro de inéditas um precioso turbilhão emocional/instrumental, ponto de partida para uma nova fase na carreira do músico.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.