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Críticas

Kevin Morby

: "City Music"

Ano: 2017

Selo: Dead Oceans

Gênero: Rock, Folk Rock

Para quem gosta de: Woods e Cass McCombs

Ouça: Come To Me Now e Aboard My Train

8.0
8.0

Resenha: “City Music”, Kevin Morby

Ano: 2017

Selo: Dead Oceans

Gênero: Rock, Folk Rock

Para quem gosta de: Woods e Cass McCombs

Ouça: Come To Me Now e Aboard My Train

/ Por: Cleber Facchi 03/07/2017

Com o lançamento do elogiado Singing Saw (2016), em abril do último ano, o cantor e compositor norte-americano Kevin Morby alcançou um novo estágio dentro da própria discografia. Trata-se de uma obra marcada pela força dos sentimentos, confissões intimistas, profunda melancolia dos versos e melodias acústicas que passeiam por diferentes fases e artistas que marcaram o Folk Rock dos anos 1970. Um curioso exercício de revisitar o passado, porém, mantendo os dois pés no presente.

Concebido durante as sessões que deram origem ao mesmo trabalho, o recente City Music (2017, Dead Oceans) mostra o outro lado desse mesmo universo autoral. Enquanto o registro anterior parecia incorporar uma atmosfera interiorana, detalhando elementos da música gospel e temas bucólicos, com o presente álbum, Morby mergulha na formação de ambientações urbanas, diálogos com o rock produzido nos anos 1970 e todo um conjunto de novas possibilidades.

Como o próprio título do registro aponta, City Music cresce em um cenário dominado pela tonalidade cinza dos prédios, reflexões existencialistas e incertezas. Uma tentativa de Morby em replicar o trabalho de veteranos da cena nova-iorquina, onde atuou durante anos como integrante do grupo Woods. Versos descritivos e melodias tristes que apontam para a obra de artistas como The Velvet Underground, Ramones e Television, este último, apontado como grande referência para o trabalho.

Entre passagens rápidas pelo mesmo ambiente de Singing Saw, caso de Aboard My Train, música que esbarra na boa fase de Bob Dylan em Blood on the Tracks (1975), City Music encontra na parcial crueza dos arranjos e versos o principal componente para a formação do trabalho. Instantes em que Morby esbarra no punk nova-iorquino, caso de 1234, uma clara homenagem ao Ramones, ou mesmo faixas como Night Time e Pearly Gates, claramente inspiradas pela obra de Lou Reed.

A principal diferença em relação ao trabalho passado está na completa versatilidade de Morby dentro de estúdio. Uma transformação que se reflete na maior interferência dos parceiros de banda, os músicos Justin Sullivan (bateria) e Meg Duffy (guitarra), além, claro, do produtor Richard Swift. Um bom exemplo disso está em Flannery, sexta faixa do disco. Um espaço aberto à cantora Meg Baird, convidada a ler trechos de livros da escritora norte-americana Flannery O’Connor.

Por vezes sombrio, City Music distorce o cenário curioso em que foi concebido – um estúdio à beira-mar na Califórnia. Uma obra que Morby parece expandir os próprios domínios criativos, resgatando parte do material produzido em diferentes projetos paralelos ao longo da carreira. Do rock sujo concebido na curta discografia do The Babies aos temas psicodélicos que marcam os primeiros anos do Woods, costuras autorais interferem diretamente no processo de composição do registro.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.