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Críticas

Young Fathers

: "Cocoa Sugar"

Ano: 2018

Selo: Ninja Tune

Gênero: R&B, Soul, Hip-Hop

Para quem gosta de: Shabazz Palaces, Sampha e TV On The Radio

Ouça: In My View e Wow

8.0
8.0

Resenha: “Cocoa Sugar”, Young Fathers

Ano: 2018

Selo: Ninja Tune

Gênero: R&B, Soul, Hip-Hop

Para quem gosta de: Shabazz Palaces, Sampha e TV On The Radio

Ouça: In My View e Wow

/ Por: Cleber Facchi 16/03/2018

Vozes submersas, ruídos tribais, arranjos que se entregam ao uso de diferentes ritmos, batidas assíncronas, rimas e pequenas interferências instrumentais que conduzem público (e banda) para dentro dos mais variados campos da música pop. Como indicado no lançamento do primeiro álbum de estúdio, Dead (2014), e, naturalmente, reforçado durante a concepção do curioso White Men Are Black Men Too (2015), ouvir o trabalho do trio escocês Young Fathers é como se perder em um território marcado pela completa incerteza.

Produto do esforço coletivo entre os músicos Alloysious Massaquoi, de origem líbia, Kayus Bankole, de ascendência nigeriana e o escocês Graham “G” Hastings, o projeto montado ainda na última década encontra no recém-lançado Cocoa Sugar (2018, Ninja Tune), o provável ponto de maturação de todas essas preferências estéticas. Ideias condensas em uma estrutura propositadamente irregular, torta, como um diálogo com a obra de TV On The Radio, Shabazz Palaces e demais representantes do R&B/Hip-Hop “alternativo”.

Acessível quando próximo do material que vem sendo produzido pelo trio desde as duas primeiras mixtapes, Tape One (2011) e Tape Two (2013), o novo álbum faz de cada composição, mesmo as mais complexas, a passagem para um ambiente pontuado por entalhes melódicos e versos rápidos. É o caso de In My View, música que soa como uma versão suja do trabalho de Jeremih, The Weeknd e qualquer outro nome recente da música negra. Uma lenta sobreposição de cantos tribais, batidas abafadas que servem de base para o romantismo melancólico dos versos.

De fato, na contramão do conceito político/racial detalhado durante a produção do álbum anterior, Cocoa Sugar sustenta nos versos um aspecto doloroso e intimista. “Amante, amante, tivemos um flerte, agora vou fazer você estremecer / Eu me pergunto se você já pensou em mim, observando do armário … Você é apenas um pequeno brinquedo quebrado / Seu pequeno garoto bobo“, provoca a letra de Toy, música que joga com a esquizofrênica relação de um casal, conceito que acaba se refletindo durante toda a execução do álbum.

Mesmo a base instrumental do disco parece refletir esse conceito particular detalhado nos versos. Salve exceções, como a crescente Lord, música que amplia a essência gospel do trio, Cocoa Sugar encanta pela forma como arranjos, batidas, samples e vozes são compactados a todo instante. Exemplo disso está no synth-rock econômico de Wow, música que soa como um remix econômico de Wolf Like Me, ao mesmo tempo em que passeia pelas paisagens cósmicas de Black Up (2011). Em Border Girl e Holy Ghost, o mesmo reducionismo, como se o trio em nenhum momento ultrapassasse um limite pré-definido.

Curioso perceber que mesmo dentro desse ambiente tão contido, restrito, Cocoa Sugar talvez seja o trabalho mais grandioso já produzido pelo Young Fathers. São camadas de sedimentos eletrônicos, fragmentos de vozes e inserções minuciosas que se conectam diretamente ao misto de canto e rima que recheia o álbum. Um lento desvendar de ideias e conceitos instrumentais que tem início na capa do disco, um experimento visual da fotógrafa Julia Noni, e segue até o último acorde da derradeira Picking You.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.