Resenha: “Coloring Book”, Chance The Rapper

/ Por: Cleber Facchi 19/05/2016

Artista: Chance The Rapper
Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B
Acesse: http://chanceraps.com/

 

A grande beleza no trabalho de Chance The Rapper sempre esteve na proximidade entre o artista e o coletivo de vozes, produtores e instrumentistas convidados a atuar dentro de cada registro de estúdio. Da bem-sucedida apresentação em Acid Rap, de 2013, passando pelo colaborativo Surf, álbum lançado em parceria com o grupo Donnie Trumpet & The Social Experiment, em 2015, cada projeto assumido pelo rapper de Chicago, Illinois parte da criativa interferência de ideias e nomes vindos de diferentes campos da música negra.

Em Coloring Book (2016, Independente), terceira e mais recente mixtape de Chance, uma detalhada continuação desse mesmo conceito colaborativo explorado nos últimos trabalhos do rapper. Mais do que um registro assinado individualmente, um espaço que se abre para a completa interferência, canto e colagem de rimas assinadas por diferentes artistas. São 14 composições que autorizam a passagem de nomes como Kanye West, Lil Wayne, Future, Justin Bieber, Young Thug e Ty Dolla $ign.

Menos “hermético” em relação ao material apresentado em 2013, Coloring Book parte exatamente de onde Chance parou há poucos meses, durante o lançamento de Angels. Produzida em parceria com os integrantes do The Social Experiment, a canção que ainda conta com a presença do rapper Saba mostra a busca do Chance por um som cada vez mais abrangente, tão íntimo do Hip-Hop produzido nos anos 1980/1980, como de todo o catálogo de ideias que abasteceram a soul music nas últimas duas décadas. Um indicativo seguro da base instrumental e poética que rege o trabalho.

Inaugurado pelo clima “religioso” de All We Got, Coloring Book inicialmente se projeta como uma versão descomplicada do mesmo material produzido por Kanye West em The Life of Pablo (2016). Composições que discutem crenças religiosas e políticas (Blessings), mergulham em transformações recentes na vida do rapper (Summer Friends, All Night) ou simplesmente focam em aspectos melancólicos do artista (Smoke Break). Tormentos típicos na vida de um jovem adulto, como se Chance fosse capaz de dialogar com o ouvinte em cada fragmento lírico do registro.

Próximo e ao mesmo tempo distante dos holofotes, Chance, assim como em Surf, não se envaidece, sendo apenas a conexão entre cada um dos colaboradores que circulam pelo trabalho. Em How Great, por exemplo, está no coro de vozes e rimas assinadas pelo convidado Jay Electronica o grande destaque da composição. Mesmo em faixas assumidas individualmente, caso das melancólicas D.R.A.M. Sings Special e Same Drugs, Chance cria pequenas brechas para a ativa interferência dos membros do The Social Experiment, atuando como um valioso “coadjuvante”.

Cercado por um time imenso de instrumentistas, vozes e produtores – entre eles Kaytranada, responsável pela deliciosa batida de All Night –, Chance The Rapper finaliza Coloring Book como um trabalho essencialmente versátil, atrativo do primeiro ao último fragmento de voz. São rimas e bases que não apenas preservam o conceito assumido nos último registros de inéditas do artista, como dialogam com uma proposta cada vez menos complexo, comercial, ponto de partida para uma nova fase dentro da carreira do rapper.

 

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Coloring Book (2016, Independente)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Vic Mensa, Kanye West e Childish Gambino
Ouça: All Night, Angels e Summer Friend

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.