Resenha: “Contact”, Pharmakon

/ Por: Cleber Facchi 04/04/2017

Artista: Pharmakon
Gênero: Experimental, Noise, Industrial
Acessehttps://pharmakon.bandcamp.com/ 

 

Como um grito angustiado, os sintetizadores e batidas sujas de Nakedness of Need anunciam a chegada de Contact (2017, Sacred Bones Records). Terceiro e mais recente álbum da produtora Margaret Chardiet como Pharmakon, o registro de atmosfera industrial, vozes berradas e ruídos metálicos amplia consideravelmente o universo de pequenas experimentações assinadas pela artista. Uma interpretação inteligente do mesmo som produzido pela artista norte-americana o primeiro trabalho de estúdio, o insano Abandon (2013).

Fuga declarada do conceito “orgânico” testado em Bestial Burden (2014), obra que transformou captações guturais, vômito e gritos de desespero no principal “instrumento” de Chardiet, o registro de seis faixas cresce de forma a revelar um material intenso a cada nova curva do registro. “Momentos em que nossa mente pode sair e transcender nossos corpos“, explicou a artista no texto de apresentação da obra. Pouco mais de 30 minutos em que Pharmakon perturba a audição do ouvinte, criando uma obra propositadamente instável.

Entre paredões de ruídos, vozes ecoadas e batidas tortas, Chardiet faz de cada composição um objeto curioso, a ser desvendado pelo ouvinte. Da mesma forma que em Nakedness of Need, Sentient, segunda canção do disco, parece trabalhada em pequenas doses, detalhando uma verdadeira massa de temas eletrônicos, ponto de partida para a complementar Transmission. Vozes em loop, ruídos claustrofóbicos e a passagem para um ambiente de formas aterrorizantes, como uma extensão da perturbadora imagem de capa do disco.

Composição mais extensa do trabalho, Sleepwalking Form nasce serena, porém, lentamente se perde em meio a ruídos e sobreposições caóticas. São pouco mais de sete minutos em que repetições, cortes bruscos e vozes berradas convidam o ouvinte a se perder no interior do trabalho. Um som visceral, cru, estímulo para a repetição desconfortante testada em Somatic, música que utiliza do som áspero das guitarras como uma forma de causar desconforto ao ouvinte. Quatro minutos de pura experimentação.

Para o encerramento do disco, uma colisão de ideias e fórmulas instrumentais que servem de alimento para No Natural Order. Consumida pelo peso das distorções, vozes e captações metálicas, a faixa de versos explosivos soa como um improvável encontro entre o Swans do álbum To Be Kind (2014) e os instantes de maior tormento no clássico O Exorcista (1973). Um turbilhão criativo que sintetiza de forma não intencional grande parte dos elementos testados em cada uma das seis faixas que caracterizam o trabalho.

Tão perturbador e complexo quanto tudo aquilo que Pharmakon vem produzindo nos últimos anos, Contact talvez seja o registro em que Chardiet melhor desenvolve a relação de proximidade entre as faixas. Da abertura do disco, em Nakedness of Need, passando por músicas como Transmission, Somatic até alcançar a derradeira No Natural Order, não é difícil perceber a linha conceitual que amarra e ainda serve estímulo para a construção do trabalho, provocativo e caótico até o último segundo.

 

Contact (2017, Sacred Bones Records)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Prurient, Swans e The Haxan Cloak
Ouça: No Natural Order, Transmission e Nakedness of Need

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.