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Críticas

Johnny Hooker

: "Coração"

Ano: 2017

Selo: Independente

Gênero: MPB, Samba, Pop Rock

Para quem gosta de: Liniker e Thiago Pethit

Ouça: Touro e Página Virada

8.0
8.0

Resenha: “Coração”, Johnny Hooker

Ano: 2017

Selo: Independente

Gênero: MPB, Samba, Pop Rock

Para quem gosta de: Liniker e Thiago Pethit

Ouça: Touro e Página Virada

/ Por: Cleber Facchi 26/07/2017

Entre ritmos e diálogos com a música produzido nos quatro cantos do país, a voz forte, rasgada, de Johnny Hooker segue como o intenso ponto de partida para um universo de desilusões amorosas, tormentos e confissões sentimentais. Uma explosão que teve início na poesia confessional de Eu vou fazer uma macumba pra te amarrar, Maldito!, lançado em 2015, e segue de forma ainda mais colorida, quente e provocativa, nas canções do segundo álbum em carreira solo do músico pernambucano, Coração (2017, Independente).

Passeando por elementos do samba (Eu Não Sou Seu Lixo), rock (Touro), brega (Corpo Fechado), axé (Caetano Veloso) e frevo (Escandalizar), Hooker parece seguir um ritmo particular — o do próprio coração. Da poderosa vinheta de abertura (“Na vida um grande amor perdi / Um grande amor fui confiado“), à ensolarada composição de encerramento do disco (“A gente se pega e se joga / Na brutal flor do querer“), sobrevive no romantismo e histórias lançadas pelo artista um precioso componente criativo para o trabalho.

Eu não sou seu lixo / Meu amor, eu lamento / De que adianta ser lindo por fora e horrível por dentro?“, ataca em Eu Não Sou Seu Lixo, faixa em que emula a boa fase de Beth Carvalho, costurando elementos do samba e pagode de forma sempre libertadora. Na teatral Página Virada, um reforço sentimental e poético que muito se assemelha ao trabalho de Maria Bethânia nos anos 1970, efeito reforçado na força de cada palavra lançada por Hooker — “Quando me ver nos braços de um outro amor / Procure outra mulher / Pra mim, és página virada / Me curei da dor“.

Em Corpo Fechado, parceria com a cantora paraense Gaby Amarantos, um misto de euforia, drama e libertação. “Já me desenganei desse amor marginal / Cê não vale um real / Pelos bares que andei / De você me livrei / Cê não vale um real“, entrega a letra da canção que ainda diverte pelo rápido diálogo da dupla no interior da canção. “Aí, Gaby, me ajuda. Pra todo lugar que eu olho, mulher, só tem boy lixo. Me arranja umas ervas, uma coisa assim“, brinca Hooker que ganha de Amarantos uma ponte para o bem-humorado refrão.

Quem também aparece pelo disco é Liniker, colaboradora de Hooker na catártica Flutua. “Eles não vão vencer, baby / Nada a dizer em vão / Antes dessa noite acabar / Dance comigo a nossa canção“, canta em um misto de declaração de amor e versos que expressam de forma metafórica as lutas diárias do movimento LGBTQ. Uma força também replicada em Touro, segunda canção do disco e uma passagem direta do músico pernambucano para o rock produzido na segunda metade dos anos 1970.

Intenso do primeiro ao último instante, como uma clara evolução do material apresentado em Eu vou fazer uma macumba pra te amarrar, Maldito!, Coração transporta para dentro de estúdio a mesma energia das apresentações ao vivo de Hooker. Difícil não ser arrastado pela sequência formada por Eu Não Sou Seu Lixo e Corpo Fechado, encontrando no frevo-rock e versos acelerados da derradeira um novo estímulo para o trabalho. Um misto de crueza, drama e bom humor, fórmula que acompanha o ouvinte durante toda a execução da obra.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.