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Críticas

Kiko Dinucci

: "Cortes Curtos "

Ano: 2017

Selo: Independente

Gênero: Rock, Experimental

Para quem gosta de: Metá Metá e Passo Torto

Ouça: No Escuro e Desmonto Sua Cabeça

9.2
9.2

Resenha: “Cortes Curtos”, Kiko Dinucci

Ano: 2017

Selo: Independente

Gênero: Rock, Experimental

Para quem gosta de: Metá Metá e Passo Torto

Ouça: No Escuro e Desmonto Sua Cabeça

/ Por: Cleber Facchi 15/02/2017

“Ele é mais filme do que disco, ouça numa tacada só, ouça em volume alto se for possível”, escreveu Kiko Dinucci no texto de lançamento de Cortes Curtos (2017, Independente). Produzido em um intervalo de apenas quatro dias, em setembro do último ano, o primeiro registro em carreira solo do cantor e compositor paulistano cresce como um imenso bloco de ruídos, gritos, histórias e personagens. Uma versão caótica, naturalmente punk, do mesmo universo conceitual que Dinucci vem desbravando em projetos como Metá Metá e demais registros colaborativos na última década.

Pensado sob a ótica de uma película cinematográfica, Cortes Curtos se revela como uma verdadeira coleção de imagens sonoras. Fragmentos visuais, narrativos e acústicos que observam diferentes aspectos da cidade de São Paulo, seus habitantes e toda uma sequência de acontecimentos mundanos. Personagens como a musa romantizada em A Morena do Facebook (“Ela é mais bonita que a foto do perfil / Enquanto se aproxima / Com seu andar macio”), ou mesmo o conflito preconceituoso que explode na descritiva Uma Hora da Manhã (“O que você tá falando de nordestino? / Sou nordestina sim, com muito orgulho”).

“Eu fui criando as canções nessa São Paulo horrorosa, racista, reacionária, opressora, que faz as pessoas adoecerem e se deprimirem”, explicou Dinucci em entrevista à Noisey. De fato, quanto mais o trabalho avança, mais ou ouvinte é arrastado para dentro desse ambiente tomado pela desesperança e sorrisos curtos, quase inexistentes. Um cenário dominado pela atmosfera cinza dos prédios e a permanente relação de proximidade com a morte, proposta escancarada nos versos suicidas de Vazio da Morte — “Matias queria se jogar / Do alto do prédio do Banespa”.

Tamanha angústia acaba se refletindo na composição dos arranjos e curvas rítmicas que movimentam o trabalho. Parcialmente distante do samba sujo incorporado pelo Metá Metá, Elza Soares e outros projetos que contam com o pulso firme de Dinucci, Cortes Curtos estreita de forma explícita o diálogo do músico com o rock e suas variações. Logo na abertura do disco, em No Escuro, uma avalanche de sons distorcidos, batidas e vozes violentas, estímulo para toda a sequência de faixas que se espalham no decorrer da obra, entre elas, a insana Desmonto Sua CabeçaCrack Para Ninar.

Diretor e ao mesmo tempo protagonista da própria obra, Dinucci atravessa o registro criando pequenas brechas criativas para a chegada de um time de colaboradores. Tulipa Ruiz, em O Inferno Tem Sede, Ná Ozzetti surge em Inferno Particular, parceira de Metá Metá, Juçara Marçal brilha em Chorei, música que leva a assinatura de Beto Villares. Surgem ainda colaboradores de longa data, como os músicos Marcelo Cabral (baixo e sintetizador), Sergio Machado (bateria), Guilherme Held (guitarra), Rodrigo Campos (cavaquinho e guitarra) e Thiago França (sintetizador e sax), responsáveis por abastecer a rica estrutura musical do disco.

Com título inspirado no filme Short Cuts – Cenas da Vida (1993), do diretor Robert Altman, e imagem de capa produzida pelo próprio músico — um enquadro da polícia durante um show em apoio ao Movimento Passe Livre —, Cortes Curtos se espalha em meio a temas e referências do universo particular do guitarrista. Uma coleção de melodias tortas, crônicas musicadas e versos angustiados que transportam o ouvinte para diferentes cenas e acontecimentos, como um passeio pelo centro de São Paulo ao lado de Dinucci.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.