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Críticas

Fleet Foxes

: "Crack-Up"

Ano: 2017

Selo: Nonesuch

Gênero: Folk, Baroque Pop, Experimental

Para quem gosta de: Grizzly Bear, Sufjan Stevens

Ouça: Third of May / Ōdaigahara, I Am All That I Need

8.8
8.8

Resenha: “Crack-Up”, Fleet Foxes

Ano: 2017

Selo: Nonesuch

Gênero: Folk, Baroque Pop, Experimental

Para quem gosta de: Grizzly Bear, Sufjan Stevens

Ouça: Third of May / Ōdaigahara, I Am All That I Need

/ Por: Cleber Facchi 22/06/2017

Crack-Up (2017, Nonesuch) é um trabalho que se revela de forma estranha. Salve exceções, como a delicada If You Need To, Keep Time On Me, raros são os momentos em que o terceiro álbum de estúdio do Fleet Foxes se articula de maneira acessível ao público médio. Uma completa ruptura instrumental e poética, conceito reforçado no título da obra, proposta que resulta em um claro distanciamento do folk rock/pop barroco detalhado pelo grupo nos dois primeiros registros de inéditas – uma obra homônima lançada em 2008 e o mais recente deles, Helplessness Blues, de 2011.

Curioso perceber que uma vez dentro do disco, ambientado ao novo estilo de Robin Pecknold e seus parceiros, difícil escapar do trabalho. Produzido em um intervalo de mais de um ano, durante a passagem do grupo por diferentes estúdios, caso do icônico Electric Lady Studios, de Jimi Hendrix, Crack-Up delicadamente se conecta ao álbum entregue ao público há seis anos. De fato, mesmas notas que pontuam o antecessor Helplessness Blues em Grown Ocean servem de estímulo para a inaugural I Am All That I Need / Arroyo Seco / Thumbprint Scar, reforçando a teoria publicada no Reddit, e confirmada por Pecknold, de que os dois trabalhos se completam.

Da mesma forma que no segundo álbum de estúdio, os integrantes do Fleet Foxes parecem seguir um caminho não linear, costurando diversos fragmentos instrumentais e poéticos dentro de uma mesma composição. Instantes de breve silenciamento, atos grandiosos, fugas, minúcias e quebras bruscas que forçam uma audição atenta por parte do ouvinte. Livre da polidez e imediata absorção do primeiro álbum de estúdio, Crack-Up encanta pela complexidade dos arranjos e vozes, transportando o ouvinte para diferentes cenários sem necessariamente incorporar um conceito específico.

Mesmo que I Am All That I Need / Arroyo Seco / Thumbprint Scar, experimental faixa de abertura, seja a principal representação da rica pluralidade de ideias e arranjos que recheiam o interior do trabalho, sobrevive na curta duração de musicas como Cassius e Mearcstapa o mesmo refinamento. Programações eletrônicas, ambientações acústicas, vozes exploradas como instrumentos, instantes de euforia, silenciamento e caos. Em Fool’s Errand, nona faixa do disco, uma colisão de ideias que passa pelo jazz, soft-rock e rock dos anos 1970 sem necessariamente sufocar a essência do grupo norte-americano, cuidado que se reflete durante toda a execução do trabalho.

Do som produzido pela banda desde o primeiro álbum de estúdio, prevalece apenas a relação com o parceiro e produtor Phil Ek, responsável pela mixagem do disco, e a força dos sentimentos detalhados em cada composição. São músicas que atravessam o cotidiano e as relações pessoais de Pecknold (Third of May / Ōdaigahara), refletem sobre os sentimentos de homens e mulheres (Cassius e Naiads, Cassadies), e ainda mergulham na construção de diferentes personagens (Kept Woman). Um verdadeiro labirinto de ideias, histórias e sensações.

Maior a cada nova audição, Crack-Up desafia o ouvinte durante toda sua execução. Difícil prever o caminho seguida pelo grupo ao longo da obra, prova de que o território desbravado nas canções de Helplessness Blues é apenas a porta de entrada por um novo universo de possibilidades a serem exploradas pelo Fleet Foxes dentro de estúdio. Da diversidade de instrumentos, arranjos complexos e músicos que atuam no interior do registro, passando pelos sentimentos e histórias detalhadas por Pecknold, uma obra imensa e que exige tempo até ser apreciada em totalidade.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.