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Críticas

Rashid

: "Crise"

Ano: 2018

Selo: Foco Na Missão

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Emicida e Criolo

Ouça: Sem Sorte, Musashi e Bilhete 2.0

8.3
8.3

Resenha: “Crise”, Rashid

Ano: 2018

Selo: Foco Na Missão

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Emicida e Criolo

Ouça: Sem Sorte, Musashi e Bilhete 2.0

/ Por: Cleber Facchi 25/01/2018

Da confirmação artística e maturidade alcançada em A Coragem da Luz (2016), para um território de pequenas incertezas e busca declarada por novas possibilidades. Poucos meses após o lançamento do primeiro álbum de estúdio, Rashid decidiu testar os próprios limites, mergulhando na produção de uma obra essencialmente livre, “em construção”, como o rapper paulistano acabou reforçando. Uma coleção de ideias soltas, fragmentos poéticos, batidas e diálogos com diferentes representantes do (novo) rap nacional. Peças que se agrupam de forma a revelar o mais recente trabalho de inéditas do artista: Crise (2018, Foco Na Missão).

Obra de ideias, o trabalho de dez faixas — oito delas originalmente apresentadas como singles —, segue exatamente de onde Rashid parou há dois anos, durante o lançamento do elogiado “debute”. Composições que passeiam pela periferia de forma sempre esperançosa, costurando temas como religiosidade, conquistas pessoais, racismo, relacionamentos e conflitos típicos de quem busca por um lugar de destaque entre as brechas da claustrofóbica selva de concreto.

Em Sem SorteMal Com o Mundo, respectivamente terceira e oitava faixa do álbum, uma síntese da dualidade poética que rege o disco. De um lado, o florescer de uma poesia sorridente, marcada pela força da mensagem — “Eu sou milagre de bombeta e moletom / A história triste que terminou bem / Era o sofrido e agora é o sangue bom / Pois lá em cima por mim tem alguém“. No outro oposto, a melancolia escancarada não apenas nos versos — “E é terrível a sensação de que meus irmão ‘tão morrendo / Enquanto eu assisto Desisto! / A realidade não afaga, pra nós é adaga” —, mas na base sorumbática montada pelo produtor Wzy.

Na dobradinha formada por Primeira Diss e Musashi, o ponto forte do trabalho. Enquanto a primeira composição distorce a essência de outras canções de insulto, transformando o rapper no principal alvo das rimas — “‘Confundindo Sábios’? Sei qual é da confusão / Você que se confundiu e errou de profissão” — , na faixa seguinte, um olhar curioso sobre a essência do Hip-Hop produzido pelo artista paulistano. Inspirado pela cultura oriental e os ensinamentos do espadachim Miyamoto Musashi, Rashid brinca com as palavras enquanto discute aspectos da própria carreira. Um som minucioso, completo pela base minimalista (e hipnótica) que conta com a assinatura de Deryck Cabrera.

Embora sóbrio na composição dos versos, Crise está longe de parecer um trabalho demasiado denso. Entre respiros breves, Rashid aproveita para confessar os próprios sentimentos. É o caso do R&B em Química — “Sejamos sócios na vida / Bonnie & Clyde, Jay-Z & Beyonce / Taís & Lázaro, Flor & Pássaro / Sertão em Mandacarú / Eu bem Jeru, e você Baduh / Qualquer sábado, rumo ao Guarujá“ —, e a nova versão para Bilhete, música originalmente produzida por NAVE Beatz para o EP Hora de Acordar, de 2010, porém, agora marcada pela presença do cantor/rapper carioca Luccas Carlos.

Completo pela presença marcante de Ellen Oléria, dona do canto forte que atravessa as rimas de Se Tudo Der Errado Amanhã, e Godô, responsável pela voz que garante sustento aos versos na derradeira Pés na Areia (Promessas), Crise se revela ao público como um reflexo da profunda versatilidade de Rashid dentro de estúdio. Perceba como cada composição parece transportar o ouvinte para um território de pequenas incertezas e novas sonoridades, ampliando criativamente tudo aquilo que foi testado em A Coragem da Luz.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.