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Críticas

Irmão Victor

: "Cronópio"

Ano: 2018

Selo: Chupa Manga Recs.

Gênero: Experimental, Pop Psicodélico

Para quem gosta de: Boogarins e Hierofante Púrpura

Ouça: Reflexões Navais e Senza Far Niente

8.1
8.1

Resenha: “Cronópio?”, Irmão Victor

Ano: 2018

Selo: Chupa Manga Recs.

Gênero: Experimental, Pop Psicodélico

Para quem gosta de: Boogarins e Hierofante Púrpura

Ouça: Reflexões Navais e Senza Far Niente

/ Por: Cleber Facchi 12/01/2018

Mesmo dentro da efervescente produção brasileira, suas variantes rítmicas e projetos que caminham de diferentes campos da música psicodélica, Marco Benvegnú parece manter um explícito grau de distanciamento, como se observasse ao longe toda essa movimentação. Sob o título de Irmão Victor, o cantor e compositor original de Passo Fundo, Rio Grande do Sul, passou os últimos dois anos se aventurando em uma série de experimentações curiosas. Trabalhos como o ótimo Passos Simples para Transformar Gelatina em um Monstro (2016), torto registro em que encontra nos delírios lisérgicos das décadas de 1960 e 1970 um poderoso elemento para reformular o presente.

Em Cronópio? (2018, Chupa Manga Recs.), terceiro e mais recente álbum de inéditas, Benvegnú vai além. Dono de uma musicalidade e poesia própria, mergulhada em maquinações tão realísticas quanto oníricas, o músico gaúcho esconde segredos, nuances e pequenas texturas instrumentais que convidam o ouvinte a desvendar e não apenas ouvir o trabalho. Fragmentos sutilmente espalhados em uma cama de incertezas, como uma fina desconstrução do som testado no disco anterior.

Exemplo disso está no pop psicodélico de Senza Far Niente. Em uma colorida espiral de arranjos, versos que provam de diferentes idiomas, e guitarras carregadas de efeitos, Irmão Victor parece mudar de direção a todo instante, como se a cada curva da canção, um novo mundo de possibilidades fosse apresentado ao público. Uma passagem não apenas para o território mágico Benvegnú, mas para diferentes conceitos típicos da cultura local, como o cruzamento de idiomas — português, italiano e alemão —, que caracteriza a vida interiorana no sul do Brasil.

Em sequência à inaugural Balada Miúda do Cronópio, Reflexões Navais é outra que encanta pela forma curiosa como arranjos e versos chegam até o ouvinte. Ambientações eletroacústicas que utilizam da temática marítima como o principal componente para a formação de versos bem-humorados — “Um peixe perguntou pro outro peixe: ‘como vai a sua sogra’ / ‘Não faz uns minutos que não vejo, como anda sua vó?’ / ‘Nem sei quem você é'” —, além, claro de melodias cuidadosas que se abrem para a inserção de samples, como trechos da animação Popeye ao final da faixa.

O mais interessante talvez seja perceber como Benvegnú costura retalhos instrumentais, vozes e pontuações acústicas durante toda a execução da obra, fazendo de cada composição um objeto curioso. São músicas imersas em camadas de distorção, vide a folclórica Mérica Mérica na abertura de Os Garçons, o pedido de “Vai um pouquinho pra lá, por favor“, nos primeiros segundos de Quelicercadinhos, metais e flautas deliciosamente espalhadas em Marco Antônio Vs. Os Príncipes da Disney. Um cuidado que muito se assemelha à boa fase d’Os Mutantes no final da década de 1960.

Feito para ser ouvido sem pressa, em pequenas doses, Cronópio?, assim como o álbum que o antecede, exige tempo até se revelar por completo. Perceba como cada composição termina de um jeito completamente diferente da estrutura apresentada pelo artista nos minutos iniciais, detalhando camadas de manipulação instrumental, vozes e ambientações confusas que se convertem em música. Uma propositada fuga do óbvio que faz do trabalho produzido por Irmão Victor um dos mais estranhos e naturalmente inventivos da música recente.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.