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Críticas

Aldan

: "daDAdaDAdaDAdaDAdaDAdaDA​.​.​."

Ano: 2017

Selo: Geração Perdida

Gênero: Rock Alternativo, Indie Rock

Para quem gosta de: Lupe de Lupe e Ventre

Ouça: Hipernormalização e Monoteísmo

8.1
8.1

Resenha: “daDAdaDAdaDAdaDAdaDAdaDA​.​.​.”, Aldan

Ano: 2017

Selo: Geração Perdida

Gênero: Rock Alternativo, Indie Rock

Para quem gosta de: Lupe de Lupe e Ventre

Ouça: Hipernormalização e Monoteísmo

/ Por: Cleber Facchi 29/11/2017

Longe de qualquer traço de previsibilidade, a música produzida pelos mineiros da Aldan se dobra, contorce e quebra de forma a revelar um imenso catálogo de pequenos detalhes. Canções livres de uma estrutura pré-delimitada, um “anti-rock”, como apontam os próprios integrantes – Marcus Vinícius Evaristo (voz e guitarra), Fernando Bones (voz e baixo), Davi Brêtas (guitarra) e Bruno Carlos (bateria) –, mas que encontra no explorar de diferentes sonoridades, ideias e possibilidades artísticas um importante componente para o amadurecimento criativo da banda.

Prova disso está em cada uma das 11 faixas que abastecem o mais novo álbum de inéditas do quarteto de Belo Horizonte, o propositadamente instável daDAdaDAdaDAdaDAdaDAdaDA​.​.​. (2017, Geração Perdida). Em um intervalo de quase 40 minutos, ruídos, temas urbanos, sobreposições confusas e fugas transportam o ouvinte para diferentes cenários, como um permanente ziguezaguear de ideias que bagunça a experiência do trabalho, ampliando o som anteriormente testado pelo grupo no álbum Pode ser que daqui a algum tempo eu tenha 30, de 2015.

Trata-se de uma obra pessimista, alimentada em essência pela construção de versos amargurados, personagens desmotivados e tristes, reflexões confusas e a completa falta de interesse na relação dos indivíduos. Pequenos desajustes que se convertem em música, como se alguém conseguisse amarrar todas as ideias e tormentos que passam na cabeça de diferentes pessoas no intervalo de segundos. Um som catártico, cru e rápido que tem início nas guitarras e versos berrados da inaugural Uh! e segue até o último acorde da derradeira Vitamina D.

Ao nosso redor os destroços caem, lindos / E ninguém, nem por um segundo, tenta desviar / Do que despenca bem em cima da sua cabeça“, canta Fernando Bones em Hipernormalização, um pop rock torto que sintetiza a descrença explícita em parte expressiva da obra. Um som cru, honesto, tratamento também evidente em Sua voz é grave e linda (“Em cada dente canino de quem me endossa / A bílis é a saliva de quem me devora“) e Monoteísmo (“Eu tenho medo de ficar velho / E conservador como meus velhos amigos / Guardando dinheiros e planos / Desisto“).

Da colisão de ideias que sustenta o disco, pequenas brechas se deixam preencher por um time seleto de colaboradores e amigos próximos. São veteranos da cena independente brasileira, caso de Jair Naves na anárquica Big Data / Wishful Thinking; em Monoteísmo, as guitarras da conterrânea Bruna Vilela, também integrante do Miêta; em meio a ruídos e metais, Você tem todas as unhas e todos os dentes se abre para a chegada do músico Fábio de Carvalho e seu pai, Ricardo Penido. Surgem ainda nomes como Thales Silva (Minimalista/A Fase Rosa) e Daniel Nunes (Lise/Constantina), o primeiro, colaborador na derradeira Vitamina D, enquanto Nunes assume o vibrafone em Quinquênio.

Provocativo e violento, feito para ser ouvido em uma só tacada, daDAdaDAdaDAdaDAdaDAdaDA​.​.​. mostra uma banda completamente madura e transformada quando voltamos os ouvidos para os inaugurais Você já roubou hoje? (2010) e Uma nova humilhação (2012). Mais do que um acumulo de experiências, reflexo de um coletivo com dez anos de carreira, o presente álbum mostra o esforço de uma banda em constante processo de reinvenção, como se cada faixa detalhada no interior do disco fosse a passagem para um novo universo criativo.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.