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Críticas

Alles Club

: "Décollage"

Ano: 2018

Selo: Pug Records

Gênero: Shoegaze, Rock Alternativo, Pós-Rock

Para quem gosta de: Pelvs e EATNMPTD

Ouça: Quanto Tempo, Libélula e Madrugada

8.2
8.2

Resenha: “Décollage”, Alles Club

Ano: 2018

Selo: Pug Records

Gênero: Shoegaze, Rock Alternativo, Pós-Rock

Para quem gosta de: Pelvs e EATNMPTD

Ouça: Quanto Tempo, Libélula e Madrugada

/ Por: Cleber Facchi 06/12/2018

Sem pressa, as guitarras e sintetizadores atmosféricos de Décollage preparam o terreno para o ambiente de formas flutuantes e composições etéreas que abastecem o primeiro álbum de estúdio da banda mineira Alles Club. São pouco menos de nove minutos em que vozes submersas, batidas pontuais e ruídos se entrelaçam de forma mágica, reflexo dos mais de cinco anos de preparação que o grupo original de Juíz de Fora, Minas Gerais, levou até finalizar o presente registro. Paisagens instrumentais que se revelam aos poucos, em pequenas doses, como fragmentos de um único conjunto de ideias.

Não por acaso, tão logo tem início, na homônima faixa de abertura, Décollage (2018, Pug Records) se conecta diretamente à já conhecida Quanto Tempo. Composição escolhida para anunciar o trabalho da banda — hoje formada pelos músicos Fred Mendes, Ruan Lustosa, Pedro Baptista, Bel Oliveira e Rodrigo Lopes —, a faixa inaugurada em meio a vozes em russo captadas de uma estação UVB sutilmente desemboca em um oceano de emoções borbulhantes. Guitarras e vozes etéreas que transportam o ouvinte para o mesmo universo de veteranos como Slowdive, conceito reforçado no romantismo triste que invade os versos e se conecta ao bem-executado arranjo de metais que pontua a canção.

Partindo dessa mesma base atmosférica delicada, Libélula, terceira faixa do disco, transporta o som produzido pela banda mineira para um novo território. Longe da composição crescente que orienta as primeiras músicas do disco, perceba como a banda parece jogar com a composição de pequenos atos instrumentais. São guitarras que encolhem e crescem a todo instante, xilofones e pequenos respiros criativos. Um ato de pura delicadeza que se aproxima do som produzido pelo grupo de veteranos do pós-rock, como Explosions in the Sky e Sigur Rós.

Curioso perceber na canção seguinte uma completa ruptura desse mesmo universo criativo. Faixa mais curta do disco, Voando arremessa o ouvinte diretamente para o início dos anos 1990, lembrando não apenas o trabalho de artistas como Sonic Youth, mas, principalmente, nomes como Astromato, Pin Ups, Second Come e demais representantes da cena independente brasileira do mesmo período. Batidas e guitarras sujas que se atravessam a todo instante, conceito sufocado por completo na música seguinte do álbum, a delirante Madrugada.

Concebida em meio a guitarras cristalinas, a faixa de quase oito minutos de duração convida o ouvinte a se perder em meio a arranjos labirínticos e inserções minuciosas de cada instrumento. Da linha de baixa que segue volumosa, sempre ao fundo da canção, passando pelo uso controlado das batidas, perceba como cada elemento de Madrugada tem seu momento de destaque, cercando o ouvinte. Frações harmônicas que replicam parte da atmosfera detalhada em Libélula, porém, dentro de uma nova estrutura criativa.

Último capítulo da jornada proposta pela banda em Décollage, Canção da Volta arrasta o ouvinte para dentro de um imenso turbilhão criativo, mudando de forma a todo instante. Divida em pequenos atos, a faixa guiada pela força dos pianos não apenas cria pequenas brechas para a breve interferência da vocalista Bel Oliveira, como resgata uma série de elementos originalmente testados nas primeiras canções do disco. São pouco mais de dez minutos em que arranjos de metais, guitarras psicodélicas e ruídos confessam pequenas incertezas, tornando a experiência do ouvinte mágica até o último instante da obra.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.