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Críticas

Macaco Bong

: "Deixa Quieto"

Ano: 2017

Selo: Sinewave

Gênero: Rock Alternativo, Rock Instrumental

Para quem gosta de: SLVDR e Mahmed

Ouça: Móviaje e Território Piercing

7.0
7.0

Resenha: “Deixa Quieto”, Macaco Bong

Ano: 2017

Selo: Sinewave

Gênero: Rock Alternativo, Rock Instrumental

Para quem gosta de: SLVDR e Mahmed

Ouça: Móviaje e Território Piercing

/ Por: Cleber Facchi 25/10/2017

Em mais de 20 anos de lançamento, não foram poucos os que decidiram revisitar as canções do clássico Nevermind (1991), obra-prima do Nirvana e um dos marcos do movimento Grunge. De Caetano Veloso, com Come as You Are, no álbum A Foreign Sound (2004), passando por nomes como Tori Amos (Smells Like Teen Spirit) e Muse (Lithium), sobram artistas, veteranos e novatos, que não apenas se apropriaram do som produzido pelo trio de Seattle, como adaptaram de forma particular, preservando a própria identidade musical.

Exemplo disso está nas canções Deixa Quieto (2017, Sinewave), sexto álbum de inéditas do grupo mato-grossense Macaco Bong e um curioso exercício da banda em revisitar as canções lançadas pelo trio norte-americano há 26 anos. Da icônica imagem de capa — no lugar do bebê sendo fisgado por uma cédula de dinheiro, um idoso submerso, pronto para para o ataque —, passando pela intensa desconstrução dos arranjos e nomes carregados de comicidade, tudo remete ao Nirvana, porém, de forma torta, essencialmente experimental.

Perfeita representação disso está na sequência de abertura formada por Smiles Nike Tem Sprite e Móviaje. Enquanto a versão para Smells Like Teen Spirit substitui as habituais guitarras, crueza e ritmo frenético por arranjos carregados de efeito e guitarras quase suingados, leves, ao adaptar In Bloom, o trio formado por Bruno Kayapy (guitarra), Daniel Hortides (baixo) e Renato Pestana (bateria), brinca com a própria herança musical, revelando ao público uma faixa espaçada, climática, lembrando as canções do clássico Artista Igual Pedreiro (2008).

Sexta música do disco, Com Easy ou Uber, releitura de Come As You Are, é outra que reforça a identidade do trio. Parcialmente distante do riff habitual que caracteriza a versão original da faixa, o grupo mato-grossense se concentra na produção de uma base ruidosa, caótica, esbarrando em uma série de elementos originalmente testados no autointitulado registro entregue no último ano. Um som enérgico, também explícito em composições como Salão e, principalmente, na psicodélica Território Piercing.

Mesmo curioso e intenso na maior parte do tempo, Deixa Quieto acaba tropeçando em uma série de canções menores ou pouco inspiradas. É o caso de Lírio, releitura de Lethium, uma das principais canções de Nevermind, mas que aqui lembra um ensaio desinteressado por parte da Macaco Bong, como se a banda estivesse afinando os instrumentos em estúdio. O mesmo som penoso se reflete em Longe de Tudo, música que se arrasta por quase quatro minutos em meio a captações caseiras e ruídos propositadamente abafados.

Referencial sem necessariamente parecer copioso, Deixa Quieto acaba confessando algumas das principais referências da Macaco Bong de forma particular, sempre inventiva. Difícil pensar no trabalho como uma obra deslocada dentro da discografia da banda. Pelo contrário, a todo instante, Kayapy e os parceiros de grupo estabelecem pequenas conexões com toda a sequência de obras acumuladas nos últimos fez anos, costurando elementos que vão do rock alternativo à música brasileira de forma provocativa.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.