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Críticas

Laura Lavieri

: "Desastre Solar"

Ano: 2018

Selo: Slap

Gênero: Pop Rock, MPB

Para quem gosta de: Bárbara Eugênia e Tulipa Ruiz

Ouça: Respeito e Mais Um Whisky

7.6
7.6

Resenha: “Desastre Solar”, Laura Lavieri

Ano: 2018

Selo: Slap

Gênero: Pop Rock, MPB

Para quem gosta de: Bárbara Eugênia e Tulipa Ruiz

Ouça: Respeito e Mais Um Whisky

/ Por: Cleber Facchi 12/09/2018

Morte e renascimento, angústia e libertação, recolhimento e caos. Em Desastre Solar (2018, SLAP), aguardado primeiro registro de Laura Lavieri em carreira solo, são esses pequenos contrastes que movimentam a poesia e arranjos delicadamente pensados para acompanhar a voz da cantora paulistana. Um ziguezaguear de ideias e experiências particulares que dialogam de maneira explícita com os principais tormentos existenciais, românticos e intimistas que invadem a mente de qualquer indivíduo.

Mais conhecida pelo trabalho como colaboradora de Marcelo Jeneci, a cantora que emprestou a própria voz para obras como Feito pra Acabar (2010) e De Graça (2013), assume certo distanciamento em relação aos primeiros trabalhos dentro de estúdio. Trata-se de um registro enérgico, quente, reflexo da profunda entrega da artista paulistana. Versos de amor, gritos de liberdade e desilusões sentimentais que crescem com naturalidade até a derradeira Estrada do Sol, um pop rock nostálgico, íntimo de nomes como Erasmo Carlos e Tim Maia (“Pela estrada do Sol / Pelas ondas do mar / Aos caminhos que me deixem sempre perto de você“).

Concebido em parceria com o experiente Diogo Strausz, artista que já havia trabalho em colaboração com Mahmundi e Alice Caymmi, Desastre Solar segue exatamente de onde a cantora e produtor haviam parado no último ano, durante o lançamento da empoeirada Quando Alguém Vai Embora. São canções ancoradas no rock brasileiro dos anos 1960 e 1970. Instantes em que Lavieri vai da jovem guarda à tropicália em um colorido resgate criativo.

Exemplo disso está na dobradinha composta por Radical e a já conhecida Respeito, logo na abertura do trabalho. Enquanto a voz de Lavieri encolhe e cresce a todo instante, revelando a força dos versos (“Todo mundo tem o seu talento, o seu momento / Todo mundo tem a sua poesia, sua energia / Cada um vibrando na frequência de sua consciência / Cada um plugado no seu nível, fazendo o que é possível“), musicalmente, o registro se entrega à psicodelia e ao soul em uma linguagem tão referencial quanto guiada pelo frescor. A própria versão para Deixa Acontecer, um dos clássicos do pagode romântico dos anos 1990, encanta pelo novo arranjo.

Interessante notar que mesmo enérgico, efeito das boas guitarras e vozes que se espalham do princípio ao fim da obra, Desastre Solar acaba seduzindo o ouvinte justamente nos momentos em que mais desacelera. É o caso da embriagada Mais um Whisky, música originalmente composta por Gui Amabis — e gravada no álbum Miopia, lançado há poucos meses. Um fino retrato da personagem melancólica que Lavieri interpreta em momentos específicos da obra. Canções como a contida Sol do Céu, faixa que mais se aproxima dos antigos trabalhos com Jeneci, ou mesmo na curtinha Me dê a Mão, uma balada psicodélica que se abre para a inserção de vozes complementares e novos instrumentos.

Cercada de colaboradores — Marcelo Callado, Jonas Sá, Alberto Continentino, João Erbetta e Ricardo Dias Gomes estão entre os responsáveis pelos versos e arranjos do disco —, Laura Lavieri faz de cada composição em Desastre Solar um permanente desvendar a própria identidade artística. Composições que passeiam por diferentes épocas, gêneros e estilos musicais talvez desgastados de forma sempre curiosa, próxima do ouvinte, fazendo da voz forte e sentimentos lançados pela artista paulistana um poderoso elemento de conexão.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.