Resenha: “Desfiado”, Barulhista

/ Por: Cleber Facchi 01/08/2016

Artista: Barulhista
Gênero: Experimental, Ambient, Electronic
Acesse: http://www.barulhista.com/

Fotos: Marcos Aurélio Prates

Desfiado (2016, Fluxxx) é um disco que começa pela capa. A fotografia em preto e branco de um homem maduro e seu rosto coberto pela barba. Pelos escuros e claros que lentamente perdem em um emaranhado sem fim. Uma perfeita representação do som experimental e essencialmente complexo que o mineiro Davidson Soares busca desenvolver em cada uma das dez faixas que marcam o novo registro de inéditas como Barulhista.

Inaugurado pela sutileza de Trança, música que conta com pouco mais de 11 minutos de duração, o 13º álbum do produtor de Belo Horizonte é uma obra de movimentos contidos, porém, sempre precisos. Preguiçosos sintetizadores climáticos se espalham ao fundo de cada composição. Ruídos eletrônicos, captações urbanas e batidas tortas. Pouco mais de 60 minutos em que o músico se concentra na produção de diferentes paisagens sonoras, sempre detalhistas, acolhedoras.

Na primeira metade do disco, um conjunto de peças extensas, propositadamente arrastadas. São composições que aos poucos mudam de direção, mergulhando em novos cenários, versatilidade explícita em toda a série de registros que antecedem o presente trabalho. Um bom exemplo disso está na segunda faixa do disco, Se Me Coubesse Ficaria. Nove minutos em que Soares costura elementos regionais em cima de uma base psicodélica, íntima dos trabalhos do austríaco Fennesz.

Em Preguiça, quarta faixa do álbum, um fino exemplo da rica tapeçaria musical montada pelo artista. Sintetizadores minimalistas e guitarras cósmicas que se abrem para a delicada inserção de elementos percussivos, sonoridade que muito se assemelha ao som produzido pelo Air dentro do clássico Moon Safari, de 1997. Pouco mais de sete minutos em que Soares se distancia do som homogêneo que inaugura o trabalho, reforçando a mudança de direção que marca o segundo ato do registro.

Com a chegada da faixa-título do disco, um novo universo de experimentos musicais se abre para o ouvinte. Ainda que a essência climática das primeiras canções seja preservada, são as batidas e colagens eletrônicas que acabam indicando o caminho assumido pelo produtor. Composições como Livro Inteiro e Mãos na Lateral da Estrutura, em que Soares flutua entre ambientações oníricas e bases dançantes, fazendo valer a frase “música para dançar sentado” que o produtor usa para apresentar a própria obra.

Produto do explícito amadurecimento do produtor, Desfiado parece resgatar uma série de elementos e texturas eletrônicas testadas pelo artista em toda a sequência de obras produzidas nos últimos dez anos. No interior das canções – parte expressiva delas produzidas há mais de um ano –, camadas de ruídos sobrepostos, ambientações brandas e detalhes que se revelam a cada nova audição do trabalho, mágico e mutável mesmo nos instantes de maior serenidade.  



Desfiado (2016, Fluxxx)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Sentidor, Cadu Tenório e M. Takara
Ouça: Trança, Se Me Coubesse Ficaria e Preguiça

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.