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Críticas

Cécile McLorin Salvant

: "Dreams and Daggers"

Ano: 2017

Selo: Mack Avenue

Gênero: Jazz, Soul

Para quem gosta de: Nina Simone e Sarah Vaughan

Ouça: Fascination e Mad About The Boy

8.0
8.0

Resenha: “Dreams and Daggers”, Cécile McLorin Salvant

Ano: 2017

Selo: Mack Avenue

Gênero: Jazz, Soul

Para quem gosta de: Nina Simone e Sarah Vaughan

Ouça: Fascination e Mad About The Boy

/ Por: Cleber Facchi 12/10/2017

Basta uma rápida audição para que todas as referências da norte-americana Cécile McLorin Salvant se materializem na mente do ouvinte. Veteranas do jazz estadunidense como Sarah Vaughan, Billie Holiday, Bessie Smith, Nina Simone e outros nomes de destaque que sobrevivem em cada nota da artista original de Miami, Flórida. Um permanente diálogo com o passado que ganha ainda mais destaque no novo álbum da cantora, Dreams and Daggers (2017, Mack Avenue).

Terceiro e mais recente álbum de inéditas da musicista, o sucessor dos ótimos WomanChild (2013) e For One to Love (2015) assume propositado distanciamento de uma tradicional obra de estúdio, transportando o ouvinte para dentro de um típico clube de jazz dos anos 1950/1960. Trata-se de uma obra gravada ao vivo, orgânica, entrecortada pelo coro de vozes, palmas e interferências do público que sutilmente ampliam o caráter enérgico e entrega da artista de 28 anos.

Entre versões e composições produzidas especialmente para o trabalho, Salvant passeia pelo disco sem pressa. São 23 faixas — algumas delas, pequenas vinhetas e captações curtas —, que se espalham em um intervalo de quase duas horas de duração. Instantes em que a artista, vencedora do Grammy 2016 na categoria de Melhor Álbum de Jazz Vocal, confessa os próprios sentimentos, angústias e emoções de forma naturalmente hipnótica, envolvente.

Sempre confessional, intimista, Salvant faz da poesia assinada por outros artistas um estímulo para o natural crescimento da própria voz. São músicas como Mad About The Boy, composição de Noel Coward que data o início dos anos 1930, mas que se transforma na força da cantora em cima do palco. A mesma explosão sentimental se revela no misto de tango e jazz de More, faixa que conta com a assinatura da artista e ainda bebe de temas orquestrais, lembrando Nina Simone.

Interessante perceber que a emoção detalhada nos versos é a mesma que invade os arranjos e toda a estrutura musical do disco. Um cuidado que se revela na execução de faixas extensas como Somehow I Never Could Believe, com quase dez minutos de duração, mas que brilha no preciosismo das melodias detalhadas em faixas mais curtas como Never Will I Merry, Fascination e Si j’étais blanche, essa última, composição que se abre para a inserção de versos em francês.

Ora experimental, ora econômico e sensível, Dreams and Daggers mostra toda a versatilidade de Salvant. Difícil não ser arrastado pela força dos sentimentos que invade composições como Wild Women Don’t Have the Blues, I Didn’t Know What Time It Was e Tell Me What They’re Saying Can’t Be True, perfeitas representações do canto melancólico e profundo esforço da artista durante toda a execução do trabalho, fazendo do extenso registro uma obra dominada do início ao fim pelas emoções.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.