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Críticas

Kalouv

: "Elã"

Ano: 2017

Selo: Sinewave

Gênero: Pós-Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: A Banda de Joseph Tourton e SLVDR

Ouça: Pedra Bruta, Elã e Mergulho Profundo

8.5
8.5

Resenha: “Elã”, Kalouv

Ano: 2017

Selo: Sinewave

Gênero: Pós-Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: A Banda de Joseph Tourton e SLVDR

Ouça: Pedra Bruta, Elã e Mergulho Profundo

/ Por: Cleber Facchi 18/10/2017

Faça o exercício: volte para o primeiro álbum de estúdio da banda pernambucana Kalouv, Sky Swimmer (2011), ouça e perceba o imenso salto criativo dado pelo grupo no trabalho seguinte, o maduro Pluvero (2014). Em um intervalo de apenas três anos, o quinteto formado por Basílio Queiroz (baixo), Bruno Saraiva (teclado), Saulo Mesquita (guitarra), Túlio Albuquerque (guitarra) e Rennar Pires (bateria) não apenas deixou de lado a postura tímida, típica de um grupo iniciante, como acabou se transformando em um dos projetos mais complexos da presente safra do rock nacional.

Prova disso está nos pequenos impulsos criativos, curvas e rupturas temáticas que marcam o terceiro álbum de inéditas da banda original do Recife, Elã (2017, Sinewave). Como indicado no próprio título da obra, trata-se de um registro marcado pela força dos instantes. Fragmentos que abraçam a transformação instrumental de forma sempre repentina, traduzindo na construção de faixas diretas, curtas e rápidas o ponto de partida para um novo e inusitado percurso sonoro, mudança que brilha e cresce com naturalidade no pequeno turbilhão instrumental que inaugura o disco com Pedra Bruta.

Símbolo de todo o trabalho, a canção de apenas quatro minutos vai serenidade ao caos em instantes. Uma colagem de arranjos sutilmente temperados por camadas de distorção, criando brechas para a inserção de sintetizadores, palmas e pequenas interferências orgânicas, como exemplo, a voz etérea da convidada, a cantora, compositora e pianista Sofia Freire. Um imenso labirinto de possibilidades que se conecta ao som mágico de Moo Moo, faixa inspirada de maneira confessa na obra do grupo canadense BADBADNOTGOOD e um reflexo evidente da ambientação interiorana que marca o Sítio Santa Fé, em Carpina, Pernambuco, local escolhido para a gravação do álbum.

Interessante perceber na canção seguinte, Máquinas, uma parcial fuga do mesmo conceito, fazendo da lenta sobreposição de guitarras e melodias ásperas a base para um som urbano, denso. Um bloco de retalhos instrumentais que ainda brinca com o uso de sintetizadores íntimos da trilha sonora de clássicos recentes do vídeo game, além, claro, de guitarras espaçadas que se conectam diretamente ao trabalho anterior. Uma ponte para o colorido cenário montado para a faixa-título do disco, assim como Pedra Bruta, uma colisão de ideias, temas eletrônicos, paisagens jazzísticas à la Flying Lotus e a voz complementar de Freire, sempre doce, necessária para o crescimento da obra.

De abertura climática, lembrando Cliff Martinez na trilha sonora de Drive (2011), Hotline Miami, quinta música do disco e primeira a ser gravada pela banda, serve de gancho para o lado mais nostálgico e curioso da obra. Ambientações minimalistas que se completam com a presença do músico Roberto Kramer (RØKR), parceiro do quinteto desde o primeiro álbum de inéditas. Uma leveza rara, bruscamente corrompida pela chuva de guitarras eletrônicas, no melhor estilo Queens of The Stone Age, que invadem a canção seguinte, Depois do Escuro. Ruídos e sintetizadores trabalhos em paralelo, resultando em um rock futurístico, como uma fuga do ambiente bucólico que orienta o trabalho a banda em grande parte da obra.

Com produção assinada por Bruno Giorgi, artista que recentemente esteve envolvido na produção do ótimo Levaguiã Terê (2016), do pianista Vitor Araújo, Elã carrega nas texturas de O Escultor, sétima faixa do disco, parte expressiva da essência do produtor. São camadas, colagens eletrônicas e pequenas inserções que fazem da faixa uma imensa selva instrumental, feita para ser desbravada pelo ouvinte, sem pressa. Um verdadeiro turbilhão criativo que silencia apenas com a chegada da doce Rei Sem Cor, um pop rock leve, porém, tecido com a mesma delicadeza das demais faixas.

Minuciosa, Mergulho Profundo não apenas garante o fechamento ideal para o trabalho, como ainda resgata uma série de elementos originalmente testados no último experimento autoral da banda pernambucana, o single Planar Sobre o Invisível, lançado no último ano. Produzida em parceria com o músico Hugo Noguchi (Ventre, SLVDR), a faixa de quase sete minutos ganha forma lentamente, convidando o ouvinte a se perder em um território marcado pela incerteza e constante transformação, como se ao final da longa jornada que amarra cada uma das canções do disco, o ouvinte ainda fosse presenteado com uma inesperada recompensa.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.