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Críticas

Drik Barbosa

: "Espelho"

Ano: 2018

Selo: Laboratório Fantasma

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Karol Conka e Tássia Reis

Ouça: Banho de Chuva, Camélia e Melanina

8.0
8.0

Resenha: “Espelho”, Drik Barbosa

Ano: 2018

Selo: Laboratório Fantasma

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Karol Conka e Tássia Reis

Ouça: Banho de Chuva, Camélia e Melanina

/ Por: Cleber Facchi 26/03/2018

“Novata” é um título que não se aplica ao trabalho de Drik Barbosa. Mesmo dona de um reduzido acervo de faixas autorais – como No Corre e 1992 –, sobram composições bem-sucedidas e passagens pelos registros de diferentes representantes do rap nacional. Do esforço como integrante do coletivo Rimas & Melodias, com quem lançou um ótimo disco no último ano, passando pelo encontro com nomes como Nego E. e Emicida, sobram fragmentos e versos capazes de refletir o completo esmero da artista paulistana dentro de estúdio.

Prova disso está no primeiro EP de inéditas da cantora/rapper em carreira solo, Espelho (2018, Laboratório Fantasma). Trata-se de um claro catalisador de experiências, ritmos e temas acumulados nos últimos anos. Um trabalho de essência particular, conceito reforçado logo na homônima faixa de abertura – “Eles dormem, eu faço planos / Sempre alerta, sem panos … Por onde passei, deixei rastros de amor” –, mas que em nenhum momento parece excluir o ouvinte desse processo.

É um projeto muito íntimo em que cada faixa é como se fosse uma conversa minha comigo mesma, sobre estar encarando meus sentimentos, lutas e pensamentos. Por isso escolhi o nome ‘Espelho’ por ser o que mais traduz essa reflexão“, resume no texto de apresentação publicado no Facebook. São versos de amor, desilusões, conflitos e indagações em que rapper cresce como protagonista da própria obra, ocupando toda e qualquer lacuna com inserções poéticas tão provocativas quanto acolhedoras e sensíveis.

Perfeita representação desse conceito ecoa no misto de nostalgia e reflexão que invade a segunda faixa do disco, Banho de Chuva, uma das quatro faixas assinadas pelo produtor Grou. “E toda vez que a chuva cai / Eu me recordo que há tempos atrás / Felicidade era um banho de chuva / Você entende como a vida é dura, curta / Após a luta, quero a simplicidade de um banho de chuva“, pontua Barbosa em um misto de canto e rima. O mesmo cuidado se faz evidente em Camélia, música em que a rapper discute racismo e libertação enquanto confessa ao público algumas de suas principais influências – “Vim pra te acordar / Fazer toda preta se amar / Mais que o Kanye ama o Kanye / Camélia liberta, passo dos comédia“.

Mesmo trabalhado em uma atmosfera particular, Espelho sutilmente se abre para a chegada de diferentes colaboradores. De um lado, a MC Stefanie Roberta, responsável pelas rimas que servem de complemento ao trabalho de Barbosa logo na faixa de abertura do disco (“Me sinto melhor como ser humano e como mulher / Anjos me livraram, não era minha hora / Muito a fazer no mundo afora / Amor à vida, agradecida, vivo o agora“). Em Melanina, canção produzida por Deryck Cabrera, um encontro musical com o conterrâneo Rincon Sapiência (“No meu rap tô botando pilha / Trago energia como alcalina / Retirando os melodrama / Colocando mais melanina“).

Ponto de partida para o primeiro álbum de estúdio da rapper, previsto para os próximos meses, Espelho não apenas resume tudo aquilo que Barbosa vem produzindo nos últimos anos, como confirma a versatilidade e contínuo processo de amadurecimento da jovem artista. Em um misto de rap, pop e R&B, Barbosa vai da rima política ao completo romantismo de forma minuciosa, como se cada uma das cinco faixas detalhadas ao longo do disco servissem de base para um registro ainda maior.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.