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Críticas

Beyoncé / Jay-Z

: "Everything Is Love"

Ano: 2018

Selo: Parkwood / Columbia / S.C / Roc Nation

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Kanye West e Kids See Ghosts

Ouça: Apeshit, Nice e 713

8.0
8.0

Resenha: “Everything Is Love”, Beyoncé / Jay-Z

Ano: 2018

Selo: Parkwood / Columbia / S.C / Roc Nation

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Kanye West e Kids See Ghosts

Ouça: Apeshit, Nice e 713

/ Por: Cleber Facchi 26/06/2018

Estranho pensar que Everything Is Love (2018, Parkwood / Columbia / S.C / Roc Nation) seja apenas o primeiro registro colaborativo de Beyoncé e Jay-Z. Parceiros na vida e em estúdio, o casal que aqui se apresenta sob o título de “The Carters”, passou as últimas duas décadas se revezando em uma série de composições essenciais para o hip-hop, pop e R&B norte-americano. De hits como Crazy in Love e Déjà Vu, passando pelo completo amadurecimento em Drunk In Love e Family Feud, sobram atos significativos que fizeram do casal um dos mais importantes da história recente da música.

É justamente dentro desse universo tão sensível quanto turbulento que a dupla estabelece o alicerce criativo para cada uma das nove faixas do registro — dez na versão exclusiva do Tidal. Uma poderosa plataforma para a confessar os próprios sentimentos, desilusões e, principalmente, conquistas geradas a partir dessa união, como um fechamento da trilogia inaugurada em Lemonade (2016) – obra que levantou a suspeita de uma possível traição de Jay-Z, e completa pelo pedido de desculpas do rapper durante o lançamento do autoral 4:44 (2017).

Dividido entre instantes de fúria e versos guiados pelo profundo romantismo, Everything Is Love parece apontar para todas as direções com natural crueza, não economizando na composição das rimas. Exemplo disso está na intensa Apeshit, uma clara continuação do universo de luxos e pequenos excessos exaltados em Niggas in Paris, parceria entre Jay-Z e Kanye West no álbum Watch The Throne (2011), mas que aqui posiciona o casal no topo da indústria da música, disparando contra gigantes como NFL e a organização do Grammy. O próprio clipe da canção, filmado no Louvre, mostra a força do projeto, como um indicativo do império conquistado pela dupla ao longo dos anos.

Esperando pacientemente pela minha morte / Porque meu sucesso não pode ser quantificado / Se eu me importasse com números de streaming / Teria colocado Lemonade no Spotify / Foda-se“, cresce a provocativa letra de Nice, outro precioso exemplar da rima afiada que orienta o disco. Canções guiadas pela força dos versos e decidida postura de seus realizadores, vide a força avassaladora de Heard About Us (“Não precisa perguntar, você ouviu falar sobre nós“) e Boss (“Todo mundo é chefe até a hora de pagar pelo escritório“), essa última, completa pela breve participação da filha do casal, Blue Ivy.

A mesma força na composição dos versos se reflete na forma como batidas, melodias e samples se projetam ao longo do disco. São fragmentos e interpolações montadas a partir de músicas originalmente compostas por diferentes nomes do rap norte-americano — como ASAP Rocky, Dr. Dre, The Notorious B.I.G. e Snoop Dogg. Exemplo disso está em 713, música que se espalha em meio a pianos e batidas cíclicas, criando pequenas brechas para o alternar das rimas do casal. Surgem ainda composições como a delicada Friends, música que parece resgatada do homônimo álbum de Beyoncé, efeito da forte similaridade na construção dos arranjos e batidas.

Originalmente previsto para 2014, como parte da primeira edição da turnê On the Run Tour, Everything Is Love cresce não apenas como um complemento à recém-lançada série de apresentações do casal, como sutilmente amplia parte do universo conceitual detalhado durante a produção Lemonade. Uma bem-sucedida vista do topo, como se Beyoncé e Jay-Z refletissem sobre tudo aquilo que conquistaram desde o início da carreira, porém, sempre vislumbrando o próprio futuro.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.