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Críticas

Arcade Fire

: "Everything Now"

Ano: 2017

Selo: Columbia

Gênero: Synthpop, Pop Rock

Para quem gosta de: The Killers e Phoenix

Ouça: Everything Now e Put Your Money On Me

5.0
5.0

Resenha: “Everything Now”, Arcade Fire

Ano: 2017

Selo: Columbia

Gênero: Synthpop, Pop Rock

Para quem gosta de: The Killers e Phoenix

Ouça: Everything Now e Put Your Money On Me

/ Por: Cleber Facchi 31/07/2017

David Bowie sempre foi encarado como um personagem importante para o amadurecimento poético e, principalmente, instrumental do Arcade Fire. Enquanto vivo, o cantor e compositor britânico se manteve próximo do coletivo canadense, colaborando na icônica interpretação ao vivo de Wake Up, parte do EP Live at Fashion Rocks, de 2005, ou mesmo na colossal Reflektor, faixa-título do quarto álbum de estúdio do grupo de Montreal e uma clara adaptação do mesmo som incorporado pelo camaleão do rock em clássicos como Scary Monsters and Super Creeps (1980) e Let’s Dance (1983).

Em Everything Now (2017, Columbia), quinto registro de inéditas da banda comandada por Win Butler e Régine Chassagne, os integrantes do Arcade Fire continuam a se aventurar pela discografia do músico inglês, porém, dialogando com alguns dos piores trabalhos do cantor. Da confusa variação de ritmos – reggae em Peter Pan, synthpop em Creature Comfort, a música disco na faixa-título –, ao esboço de versos redundantes que se aprofundam em temas há muito desgastados, difícil não lembrar de Bowie no primeiro grande tropeço de sua carreira, o instável Tonight, de 1984.

Evidente continuação do universo nostálgico explorado no antecessor Reflektor (2013), o trabalho de quase 50 minutos e 13 faixas – quatro delas vinhetas –, se perde em meio a pequenas repetições e autorreferências, como se a banda canadense fosse incapaz de ultrapassar o território criativo desbravado há quatro anos. Da forte similaridade de Electric Blue com o clássico Sprawl II (Mountains Beyond Mountains), passando pela mesma atmosfera e temas dançantes, sobrevive nas canções de Everything Now uma tentativa do Arcade Fire em emular o próprio trabalho.

Curioso perceber na estratégia de divulgação do disco um cuidado muito maior do que a própria composição dos arranjos e vozes. Da transmissão ao vivo para anunciar a data de lançamento do registro no meio do Deserto de Mojave, nos Estados Unidos, passando pela criação de notícias falsas em diferentes portais, como “Billlboard”, até a produção de uma crítica ao próprio disco na seção Premature Evalution do também fictício “Stereoyum”, todo o material que cresce no entorno de Everything Now parece muito mais interessante do que as canções presentes no álbum.

Parte desse forte desequilíbrio vem da clara fragmentação do registro nas mãos de diferentes produtores. Além do velho parceiro Markus Dravs, colaborador da banda desde a boa fase em The Suburbs, Everything Now se abre para a chegada de nomes como Thomas Bangalter (Daft Punk), Steve Mackey (Pulp), Geoff Barrow (Portishead) e Eric Heigle. O resultado está na construção de uma obra que tenta ser tudo, porém, acaba tropeçando nos próprios excessos. Uma tentativa da banda em se reinventar, mesmo presa a um passado ainda recente, sufocada pelo uso de referências nostálgicas e apropriações pouco inventivas da música produzida nos anos 1970 e 1980.

O descontentamento é ainda maior quando a atenção depositada sobre as letras do disco aumenta. Da permanente busca por conforto explorada em Creature Comfort, aos pequenos excessos, como sexo e drogas, que alimentam os versos da festiva Peter Pan, Everything Now parece repetir uma série de temas há muito solucionados por artistas como Radiohead (OK Computer) e R.E.M. (Automatic for the People). Clichês que se perdem em meio ao uso de versos cíclicos e estrofes aceleradas com o intuito simples de catapultar o refrão.

Mesmo insignificante quando próximo de obras como Funeral (2004) ou mesmo Reflektor, Everything Now brilha em momentos específicos. Difícil escapar do som melódico e dançante que orienta a faixa-título do disco, uma clara adaptação do material produzido pelo ABBA em obras como Arrival (1976). Na dobradinha formada Put Your Money On Me e We Don’t Deserve Love, uma evidente fuga de possíveis excessos, leveza que garante ao público uma passagem direta para o mesmo universo criativo dos primeiros trabalhos em estúdio da banda. Instantes em que o grupo canadense de fato impressiona, porém, continua dando voltas em torno de um mesmo ambiente criativo.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.