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Críticas

Jean Grae / Quelle Chris

: "Everything's Fine"

Ano: 2018

Selo: Mello Music Group

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Talib Kweli e De La Soul

Ouça: Gold Purple Orange e Ohsh

8.0
8.0

Resenha: “Everything’s Fine”, Jean Grae & Quelle Chris

Ano: 2018

Selo: Mello Music Group

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Talib Kweli e De La Soul

Ouça: Gold Purple Orange e Ohsh

/ Por: Cleber Facchi 20/04/2018

Está tudo bem“. A frase repetida durante toda a execução de Everything’s Fine (2018, Mello Music Group), primeiro registro da parceria entre os veteranos Jean Grae e Quelle Chris, indica a forte ironia que orienta as canções assinadas pela dupla. São versos políticos, debates sobre racismo, violência e criminalidade, além, claro, de uma visão satírica de tudo aquilo caracteriza a sociedade norte-americana desde que o governo Donald Trump teve início.

“Quando você ouve a frase ‘está tudo bem’, imediatamente a entendemos como uma abreviação emocional. Na vida cotidiana, dependemos desses clichês superficiais (esperamos que tudo esteja bem, bom ouvir de você, etc.) para nos pouparmos do desdobramento psicológico que a verdade exige. Para isso, existe a arte“, resume o texto de apresentação do disco, apontando o esforço da dupla em utilizar de cada fragmento poético como uma ferramenta de provocação.

Todo mundo tem que ser branco / Todo mundo discorda tem que estar errado / Todo pau preto tem que ser longo / Tudo nas notícias tem que ser real, certo?“, questiona Chris em Gold Purple Orange, um jogo de pequenas contradições e falsas certezas que ainda serve de estímulo para os versos lançados pela parceira: “O preço de uma vida vivida está chegando cada vez mais tarde / Sem vida construída, pelo preço certo, culpa / Porque você pode ser o que dizem ser e ser morto“.

O mesmo cuidado e caráter satírico explícito nas rimas se revela na construção das vinhetas e pequenos interlúdios que atravessam o disco. Logo na abertura do álbum, um divertido game show que mostra o constrangimento de cada participante, entre eles, um robô futurista. Em Don’t Worry It’s Fine, quinta faixa do disco, a comicidade explícita na frase “E lembre-se, se você é um americano, morando na América, você é um vencedor! Todo mundo é um vencedor“.

Como complemento aos versos, cada faixa do disco surge encorpada pela inserção de samples, batidas e bases essencialmente nostálgicas, como um diálogo com o mesmo som versátil trazido pelo De La Soul entre o final dos anos 1980 e início da década seguinte. São fragmentos de vozes, como em Waiting For The Moon e River, assinadas em parceria com Anna Wise, em que as rimas lançadas por Grae e Chris ganham forma aos poucos, criando pequenas brechas em meio a temas melódicos.

Passo além em relação ao material que vem sendo produzido em carreira solo por cada integrante do projeto, principalmente Grae, dona de um extenso cardápio de obras, Everything’s Fine revela o que há de melhor no trabalho de cada colaborador. Uma seleção de versos satíricos/provocativos que não apenas dialogam com o que há de mais atual dentro do território estadunidense, como em relação a diferentes debates culturais e núcleos socais espalhados pelo globo.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.