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Críticas

Kele Okereke

: "Fatherland"

Ano: 2017

Selo: BMG

Gênero: Pop Rock, Folk

Para quem gosta de: Bloc Party e Corinne Bailey Rae

Ouça: Yamaya e Streets Been Talkin'

6.8
6.8

Resenha: “Fatherland”, Kele Okereke

Ano: 2017

Selo: BMG

Gênero: Pop Rock, Folk

Para quem gosta de: Bloc Party e Corinne Bailey Rae

Ouça: Yamaya e Streets Been Talkin'

/ Por: Cleber Facchi 26/10/2017

Em mais de uma década de carreira, as guitarras e batidas eletrônicas orientaram o trabalho de Kele Okereke. Do som pulsante que abastece a boa fase com o Bloc Party, vide Silent Alarm (2005) e A Weekend In The City (2007), ao forte diálogo com as pistas em obras assinadas individualmente, caso de The Boxer (2010) e Trick (2014), sobrevive na prolífica discografia do músico inglês uma imposição sempre acelerada que orienta arranjos e vozes.

Primeiro álbum assinado com o nome completo do músico, não apenas “Kele”, como nos dois primeiros registros do projeto eletrônico, Fatherland (2017, BMG) mostra uma face talvez inédita do artista inglês. Trata-se de uma obra econômica, reclusa e adornada pelo uso de melodias acústicas. Uma fuga breve de tudo aquilo que Okereke produziu nos últimos dez anos, como um convite a desvendar o que há de mais intimista no universo particular do artista.

Como indicado durante o lançamento de Yemaya, composição escolhida para apresentar o trabalho, Okereke carrega nos versos e pequenas inserções poéticas uma espécie de resgate cultural que vai da religião Iorubá ao uso de memórias da infância, temas que rondam o cotidiano e a família do cantor. Uma poesia descomplicada, doce, conceito que acaba se refletindo na base instrumental que sustenta e orienta parte expressiva do trabalho.

Difícil não lembrar de Elliott Smith e tantos outros nomes do folk estadunidense, efeito da base acústica que sutilmente ganha forma no decorrer da obra. São músicas como a delicada Streets Been Talkin’, em que a fina tapeçaria acústica se abre para a inserção de novos elementos — pianos, batidas e vozes sobrepostas. Cuidado também evidente na nostálgica Capers, música que parece ter viajado através do tempo, vinda diretamente dos anos 1970.

Mesmo em uma atmosfera particular, Fatherland acaba servindo de ponte para a relação entre Okereke e um grupo reservado de colaboradores. É o caso de Grounds for Resentment, música dominada pelo uso de teclados e vozes doces que se completam pela presença do conterrâneo Olly Alexander, vocalista do Years & Years. Na doce Versions of Us, um delicado encontro com a cantora Corinne Bailey Rae, artista responsável por completar as lacunas sentimentais e poéticas da canção.

Inusitado quando voltamos os ouvidos para toda a sequência de obras que antecedem o presente trabalho, Fatherland nasce como uma necessária ruptura de tudo aquilo que Okereke vem produzindo desde o começo da carreira. De fato, a julgar pelo cuidado na construção dos arranjos, versos e sentimentos espalhados pelo registro, há tempos um registro produzido pelo músico britânico não parecia tão honesto e sentimentalmente próximo do ouvinte quanto este

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.