Resenha: “Fin”, Syd

/ Por: Cleber Facchi 09/02/2017

Artista: Syd
Gênero: R&B, Soul, Hip-Hop
Acesse: https://www.internetsyd.com/

 

Com três obras de peso nas mãos — Purple Naked Ladies (2011), Feel Good (2013) e Ego Death (2015) —, os integrantes do grupo The Internet não demoraram a conquistar um lugar de destaque na presente cena do R&B/Soul norte-americano. Um dos braços do coletivo Odd Future —o mesmo de Tyler The Crator, Earl Sweatshirt e Frank Ocean —, o quinteto de Los Angeles temporariamente se fragmenta para que cada integrante do projeto possa atuar em um diferente registro em carreira solo, ponto de partida para a construção do primeiro disco autoral da vocalista Syd.

Intitulado Fin (2017, Columbia), o trabalho de 12 faixas é uma passagem direta para o R&B produzido no final da década de 1990. Um jogo de batidas lentas, bases e versos provocantes, sempre sedutores, lançados de forma a enfeitiçar o ouvinte. Medos, declarações de amor e um fino toque de sexualidade que atravessa a obra de artistas como Aaliyah e TLC para dialogar de forma explícita com a o mesmo som produzido por Kelela, Tinashe e outras representantes recentes do gênero.

Parte dessa complexa estrutura musical sobrevive no esforço coletivo do reduzido time de produtores que acompanham Syd durante toda a formação da obra. Em All About Me e Dollar Bills, o pulso firme do parceiro de banda Steve Lacy. Na inaugural Shake Em Off, o tempero pop de Hit-Boy, produtor que já trabalhou ao lado de Beyoncé e Kanye West. Parceiro de Kendrick Lamar, Rahki garante o fechamento ideal para o disco em Insecurities. Surgem ainda músicas como No Complaints e Nothin to Somethin, faixas escritas e produzidas pela própria artista, reforçando o aspecto intimista da obra.

Centrado no cotidiano da cantora, Fin delicadamente mergulha em um universo marcado por diferentes personagens, cenas e acontecimentos que influenciaram a vida de Syd. “Cuide da família que veio com você / Fizemos tudo isso até agora e foi incrível / Pessoas se afogando ao meu redor / Apenas mantenha minha equipe ao meu redor”, canta em All About Me, um retrato intimista (e ao mesmo tempo turbulento) sobre a fama, relacionamentos complexos, família e amigos, como uma tradução detalhada da presente fase da artista.

Querida, podemos levar devagar, diga o meu nome / Não deixe ir, eu posso ouvir seu corpo / Quando puxo seu cabelo / Qual é o meu nome Garota? / Eu juro, eu posso ouvir seu corpo, querida”, canta de forma provocante em Body, um jogo de carícias, toques e sensações que resume com naturalidade o som envolvente do disco. Um cuidado que se repete ainda em músicas como Got Her Own (“Você tenta sexo dela, mas ela diz não”) e na lasciva Smile More (“Me molhando em suas cachoeiras”).

Segundo registro da série de obras que os integrantes do grupo californiano devem apresentar nos próximos meses — caso do recente The Drum Chord Theory (2017), produzido pelo músico Matt Martians —, Fin não apenas incorpora parte expressiva dos mesmos conceitos lançados pelo The Internet, como se abre para que Syd possa explorar um mundo de novas possibilidades. Uma coleção de versos essencialmente românticos e particulares que se espalham em uma estrutura conceitualmente segura.

 

Fin (2017, Columbia)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Kelela, The Internet e SZA
Ouça: Body, All About Me e No Complaints

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.