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Críticas

Tom Rogerson / Brian Eno

: "Finding Shore"

Ano: 2017

Selo: Dead Oceans

Gênero: Experimental, Ambient, Jazz

Para quem gosta de: Bing & Ruth e Cluster

Ouça: Idea of Order at Kyson Point e Motion In Field

8.0
8.0

Resenha: “Finding Shore”, Tom Rogerson / Brian Eno

Ano: 2017

Selo: Dead Oceans

Gênero: Experimental, Ambient, Jazz

Para quem gosta de: Bing & Ruth e Cluster

Ouça: Idea of Order at Kyson Point e Motion In Field

/ Por: Cleber Facchi 19/12/2017

Perto de completar cinco décadas de carreira, Brian Eno segue como um dos personagens mais inventivos e prolíficos da música britânica. Entre obras assinadas individualmente, caso dos recentes The Ship (2016) e Reflection (2017), sobram parcerias bem-sucedidas com representantes de diferentes campos da música. Das experimentações com Karl Hyde, em Someday World e High Life, ambos de 2014, ao ruidoso encontro com Kevin Shields (My Bloody Valentine) em Only Once Away My Son, cada registro serve de passagem para um novo ambiente criativo.

Produto da colaboração entre Eno e o pianista Tom Rogerson, Finding Shore (2017, Dead Oceans) mostra o contínuo amadurecimento do músico britânico. Concebido a partir de camadas de emanações sintéticas, o trabalho detalha o esforço do veterano em completar as pequenas lacunas deixadas pelo conterrâneo inglês. Trata-se de um exercício puramente experimental, curioso, com Eno utilizando de um Moog Piano Bar para reformular a base minimalistas assinada por Rogerson.

Perfeita representação do som produzido para o trabalho sobrevive na psicodelia eletrônica que sutilmente cresce em Motion In Field, segunda faixa do disco. Enquanto Rogerson passeia com liberdade pelo interior da canção, detalhando pequenas curvas instrumentais, bipes e inserções robóticas acabam transportando o ouvinte para um novo território. Uma continuação acelerada, mas não menos detalhista, do mesmo som produzido por Eno para o clássico Cluster & Eno, de 1977.

Obra de possibilidades, Finding Shore faz de cada composição um ato isolado, raro. Instantes em que a dupla se afunda na construção de temas atmosféricos, como em Minor Rift, passa pelo uso de melodias nostálgicas, vide The Gabbard, e ainda se afunda em experimentações curiosas com a música pop, como na instável Red Slip. Pouco menos de 50 minutos em que o duo inglês não apenas resgata uma série de elementos originalmente testados por Eno nos anos 1970, como amplia parte expressiva desse mesmo universo.

Exemplo disso está na climática An Iken Loop. Em um intervalo de apenas três minutos, Eno e Rogerson parecem brincar com a mesma base testada em clássicos como Ambient 1: Music for Airports (1978) e Music for Films (1978). Pianos minimalistas que crescem em meio a uma nuvem de ruídos e sobreposições etéreas. O mesmo cuidado se reflete logo na inaugural Idea of Order at Kyson Point, composição que encolhe e cresce na mesma proporção, detalhando um conjunto de texturas e melodias que parecem dançar na cabeça do ouvinte.

Colorida variação de gêneros, Finding Shore vai do jazz ao space-pop de forma sempre inventiva, como um permanente desvendar de novas ideias e conceitos. Ainda que Eno seja o grande responsável por atrair a atenção do público para o trabalho, está nas mãos e melodias ambientais de Rogerson o grande destaque da obra. Um misto de homenagem e permanente reinvenção. Décadas de referências que servem de base para a fina arquitetura instrumental que sustenta o registro.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.