Resenha: “Flotus”, Lambchop

/ Por: Cleber Facchi 08/11/2016

Artista: Lambchop
Gênero: Alt. Country, Indie, Alternativo
Acesse: http://www.lambchop.net/

 

Lançado em outubro de 2008, OH (Ohio) deu ao Lambchop a possibilidade de se reinventar em estúdio. Entre melodias eletrônicas e temas minimalistas, a voz sublime de Kurt Wagner, dono de uma poesia essencialmente intimista, romântica. Longe de parecer um exercício isolado, o registro acabou servindo de base para um novo catálogo de obras, proposta explícita no lançamento do delicado Mr. M, em 2012 e, principalmente com a chegada de Flotus (2016, City Slang / Merge Records).

Mais recente trabalho de inéditas do coletivo de Nashville, Flotus – o título é uma abreviação da frase “For Love Often Turns Us Still” –, segue exatamente de onde o grupo parou há quatro anos. São versos confessionais, medos, confissões românticas e pequenos tormentos existencialistas que se espalham em cima de uma fina tapeçaria instrumental. Uma fuga constante do som produzido pela banda em clássicos como How I Quit Smoking (1996) e Nixon (2000).

Apresentado ao público durante o lançamento da extensa The Hustle, música de encerramento do disco e um minucioso ato com quase 20 minutos de duração, o álbum de 11 composições inéditas funciona dentro de uma medida própria de tempo. Sem pressa, Wagner e os parceiros de banda detalham arranjos econômicos de guitarras, batidas eletrônicas, sintetizadores e vozes sussurradas, conduzindo o ouvinte pelos corredores de um imenso labirinto musical.

Íntimo da mesma ambientação explorada por nomes como Justin Vernon (Bon Iver, Gayngs) e Matthew Houck (Phosphorescent), Wagner faz de cada composição ao longo do disco uma curiosa visita ao passado. Músicas como Directions To The Can e In Care Of 8675309, conceitualmente próximas da sonoridade produzido por Burt Bacharach e outros veteranos do Easy Listening. Canções tão delicadas e sensíveis que parecem se desfazer durante a audição.

Outro elemento de destaque do trabalho está na forte relação de Wagner com o Soul dos anos 1970. Um bom exemplo disso está na montagem de Relatives #2, sétima faixa do disco. Enquanto batidas, vozes e ruídos eletrônicos se movimentam dentro de pequenos ciclos, a letra da canção se espalha e cresce, costurando versos intimistas em cima de guitarras levemente aceleradas, como uma possível adaptação da obra de Al Green e outros românticos do mesmo período.

Fortemente influenciado pelo trabalho de artistas como Kendrick Lamar, Flying Lotus e Shabazz Palaces, Wagner faz de Flotus uma atualização de tudo aquilo que o Lambchop vem produzindo desde o começo dos anos 1990, quando a banda deu vida aos primeiros registros em estúdio. Vozes maquiadas pelo uso do auto-tune, melodias eletrônicas e arranjos sutis que se curvam de forma a reforçar a poesia melancólica que o músico detalha até o último sussurro do disco.

 

Flotus (2016, City Slang / Merge Records)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Bon Iver, Phosphorescent e Gayngs
Ouça: Relatives #2, Directions To The Can e The Hustle

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.