Image
Críticas

Tyler, The Creator

: "Flower Boy"

Ano: 2017

Selo: Odd Future / Columbia

Gênero: Hip-Hop, Rap, Soul

Para quem gosta de: Frank Ocean e Chance The Rapper

Ouça: See You Again e Who Dat Boy

8.8
8.8

Resenha: “Flower Boy”, Tyler, The Creator

Ano: 2017

Selo: Odd Future / Columbia

Gênero: Hip-Hop, Rap, Soul

Para quem gosta de: Frank Ocean e Chance The Rapper

Ouça: See You Again e Who Dat Boy

/ Por: Cleber Facchi 24/07/2017

Volte um pouco no tempo. Você conseguiria imaginar que o mesmo responsável pelo som claustrofóbico e denso de Goblin (2011) viria a produzir um material tão acessível, por vezes “colorido”, como nas canções de Flower Boy (2017, Odd Future / Columbia)? Provavelmente não. Quarto álbum de estúdio do rapper, o sucessor do mediano Cherry Bomb (2015) traz de volta a mesma pluralidade de ritmos e coerência inicialmente reforçada em Wolf (2013), servindo de passagem para uma nova (e criativa) fase dentro da ainda curta trajetória do artista californiano.

Claramente influenciado pelo trabalho do parceiro Frank Ocean em Blonde / Endless (2016), o rapper transporta para dentro do presente álbum um imenso catálogo de ritmos e fórmulas instrumentais, como se cada composição ao longo do disco fosse montada a partir de diferentes fragmentos sonoros e poéticos. Um bom exemplo disso está na própria colaboração com Ocean, Where This Flower Bloom. Entre versos que falam sobre as próprias conquistas de Tyler – “Eu floresço / Eu brilho” –, um precioso cruzamento entre soul, rap e melodias orquestrais garantem novo detalhamento ao trabalho.

Um cuidado que se reflete com maior naturalidade na principal composição do disco, a delicada See You Again. Tecida em meio a versos românticos e pequenas declarações de amor – “Posso ganhar um beijo? / E você pode fazer durar para sempre?“–, a parceria entre o rapper e a cantora colombiana Kali Uchis cresce em meio a em meio a passagens pelo soul/R&B dos anos 1970, como uma natural evolução do material apresentado há dois anos em Cherry Bomb, sonoridade que aproxima o trabalho de Tyler do último registro de Anderson .Paak, o excelente Malibu (2016).

Dentro desse universo de emanações nostálgicas e diálogos com a música negra, surgem ainda composições como 911 / Mr. Lonely, um bem-sucedido encontro com o produtor Steve Lacy (The Internet) que se completa com a voz pontual de Frank Ocean. Na dobradinha formada por Pothole e Garden Shed – músicas que se abrem para a colaboração de Jaden Smith e Estelle, respectivamente –, a passagem para o lado mais intimista da obra. Uma seleção de versos marcados pela necessidade de Tyler em assumir a própria sexualidade – “Você não precisa se esconder / Eu posso sentir o cheiro nos seus olhos“.

A parcial leveza na formação dos arranjos e versos não impede que Tyler mergulhe na construção de faixas tão insanas quanto o material apresentado nos últimos discos. Prova disso está na construção de Who Dat Boy, parceria com A$AP Rocky em que o rapper continua a se aventurar pela temática particular das rimas, porém, de forma intensa, efeito da crueza das batidas e bases instrumentais. Nada que se compare à explosão instrumental e poética de I Ain’t Got Time!, música em que o artista reflete sobre o peso da fama, amizades por interesse, festas e excessos.

Cercado de colaboradores – Corinne Bailey Rae, Schoolboy Q, Lil Wayne, Anna of the North e Pharrell Williams estão entre os artistas que participam do disco –, Tyler, The Creator faz de Flower Boy o trabalho mais completo (e complexo) de toda sua curta trajetória. Composições que apontam para o cotidiano do artista de forma pessoal e delicada, porém, preservando o mesmo bom humor e cuidado na formação dos arranjos e versos que acompanham o artista desde a boa fase como mente criativa aos comandos do coletivo Odd Future. Um perfeito exemplar da maturidade e continua transformação do artista dentro e fora de estúdio.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.