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Críticas

Marissa Nadler

: "For My Crimes"

Ano: 2018

Selo: Sacred Bones Records / Bella Union

Gênero: Indie, Folk, Dream Pop

Para quem gosta de: Sharon Van Etten, Lana Del Rey e Angel Olsen

Ouça: I Cant Listen to Gene Clark Anymore e Blue Vapor

7.6
7.6

Resenha: “For My Crimes”, Marissa Nadler

Ano: 2018

Selo: Sacred Bones Records / Bella Union

Gênero: Indie, Folk, Dream Pop

Para quem gosta de: Sharon Van Etten, Lana Del Rey e Angel Olsen

Ouça: I Cant Listen to Gene Clark Anymore e Blue Vapor

/ Por: Cleber Facchi 11/10/2018

A cada novo álbum de estúdio, a poesia amarga de Marissa Nadler ganha contornos ainda mais sombrios. Protagonista da própria obra, a cantora e compositora norte-americana vem se aprofundando na produção de um material essencialmente sensível, sempre ancorado em desilusões amorosas, instantes de profunda solidão, medo e tentativas frustradas de se reerguer. Um canto melancólico e intimista que serve de estímulo para o novo registro de inéditas da artista, For My Crimes (2018, Sacred Bones Records / Bella Union).

Como indicado no título do trabalho, do inglês, “pelos meus crimes”, cada verso lançado por Nadler ao longo da obra se projeta como um retrato das experiências, memórias recentes e conflitos pessoais da musicista. Versos deliciosamente arrastados e dolorosos, como uma extensão natural de tudo aquilo que a cantora vinha testando nos dois últimos registros autorais, caso de Strangers (2016) e, principalmente, July (2014), um de seus trabalhos mais sensíveis.

Exemplo disso ecoa com naturalidade em I Cant Listen to Gene Clark Anymore, segunda faixa do disco. “Eu não posso mais ouvir Gene Clark sem você … Eu lembro das músicas que você cantou / Para mim quando estava com você“, confessa Nadler em um doloroso exercício de desapego e permanente olhar para o passado. Um ato melancólico em que o eu lírico busca sufocar antigas recordações, conceito que vem sendo explorado desde a estreia da cantora, em Ballads of Living and Dying (2004).

A própria faixa-título do disco, escolhida para inaugurar o trabalho, reflete com naturalidade a mesma poesia sorumbática de Nadler. “Eu fiz coisas terríveis / Mentiras frias e descuidadas / Você pode assistir atrás do vidro enquanto eu / Passo pela serpentina … Por favor não se lembre de mim pelos meus crimes“, canta em tom confessional. Um refinamento doloroso que se reflete na forma como guitarras atmosféricas e melodias acústicas borbulham ao fundo da canção, sufocando o ouvinte.

Variações instrumentais que tingem com tristeza grande parte do disco, como na soturna Interlocking e Are You Really Gonna Move to the South?, essa última, guiada pela inserção de parcos violões, como um breve suporte ao canto sóbrio de Nadler. Variações sutis que provam do mesmo dream pop de veteranos como Mazzy Star, passam pelo country-folk e se perdem em meio a camadas de um som orquestral, noturno, proposta que alcança maior detalhamento nas guitarras e arranjos de cordas que invadem a já conhecida Blue Vapor.

Parte desse cuidado na composição dos arranjos vem do evidente amadurecimento artístico de Nadler, além, claro, do cuidado de Justin Raisen (Angel Olsen, Sky Ferreira) e Lawrence Rothman, produtores do álbum, em conceitualmente trabalhar cada uma das 11 faixas de For My Crimes dentro de uma mesma estrutura melódica. Movimentos sempre calculados, lentos, porém, fundamentais para o fortalecimento dos versos derramados pela artista até o último instante do disco, em Said Goodbye to That Car.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.