Image
Críticas

Ty Segall

: "Freedom's Goblin"

Ano: 2018

Selo: Drag City

Gênero: Rock, Garage Rock

Para quem gosta de: Thee Oh Sees e Unknown Mortal Orchestra

Ouça: The MainTretender e Cry Cry Cry

8.0
8.0

Resenha: “Freedom’s Goblin”, Ty Segall

Ano: 2018

Selo: Drag City

Gênero: Rock, Garage Rock

Para quem gosta de: Thee Oh Sees e Unknown Mortal Orchestra

Ouça: The MainTretender e Cry Cry Cry

/ Por: Cleber Facchi 18/04/2018

A viagem musical de Ty Segall parece longe de chegar ao fim. Em um contínuo exercício de revisitar o passado, o cantor, compositor e produtor norte-americano passou os últimos dez anos brincando com o trabalho de diferentes representantes da música produzida há mais de quatro décadas. De T. Rex, grupo homenageado na coletânea de versões lançada em 2015, passando por The Stooges e The Sonics, sobrem estranhas “adaptações” assinadas pelo artista.

Décimo registro de inéditas da cerreira de Segall, Freedom’s Goblin (2018, Drag City) talvez seja o trabalho em que todo esse fascínio do artista californiano seja explorado com maior naturalidade. São 19 faixas e pouco mais de 70 minutos de duração em que o ouvinte é conduzido em direção ao passado, como uma estranha continuação do som detalhado durante o lançamento do homônimo disco de inéditas entregue em 2017.

Sem ordem aparente, Segall faz de cada composição um objeto precioso, como um convite a mergulhar em uma coleção de clássicos. Não por acaso, cada fragmento do disco parece transportar o ouvinte para um campo específico da música — glam rock, rock psicodélico, garage rock, punk e hard rock —, como se o músico norte-americano testasse os próprios limites. Diferentes personagens, melodias e conceitos a serem desvendadas.

Difícil ouvir músicas como My Lady’s on Fire e não perceber na lenta desconstrução dos arranjos um claro diálogo com a obra de David Bowie — principalmente em Hukny Dory (1971) e Young American (1975). Nona composição do disco, Cry Cry Cry poderia facilmente ter saído de algum disco dos Beatles, efeito da estrutura melódica da canção. Dominada pela inserção dos metais e guitarras sujas, The Main Pretender lembra um encontro entre T. Rex e The Rolling Stones sem necessariamente perverter a identidade de Segall.

O mais interessante talvez seja perceber como o guitarrista se concentra em explorar novas sonoridades a cada curva do álbum. É o caso do soul-rock em Every 1’s a Winner, música poderia facilmente ter escapado de algum disco do Prince, lembrando uma versão menos poluída do som explorado por Unknown Mortal Orchestra e outros nomes recentes do gênero. Surgem ainda músicas como a experimental Despoiler of a Cadaver, faixa que se entrega ao uso de colagens eletrônicas e flertes com a música disco.

Referencial sem necessariamente parecer nostálgico, Freedom’s Goblin mostra que Ty Segall segue tão inventivo quanto no início da presente década, quando revelou ao público obras como Goodbye Bread (2011) e Twins (2012). Como indicado na própria estrutura do álbum, trata-se de uma obra feita para ser apreciada sem pressa, como se cada faixa detalhada ao longo do disco servisse de passagem para um universo completamente novo, bagunçando a interpretação do público.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.