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Críticas

Garotas Suecas

: "Futuro do Pretérito"

Ano: 2017

Selo: Freak

Gênero: Pop Rock, Rock

Para quem gosta de: O Terno e Nevilton

Ouça: Objeto Opaco e Não Tem Conversa

8.0
8.0

Resenha: “Futuro do Pretérito”, Garotas Suecas

Ano: 2017

Selo: Freak

Gênero: Pop Rock, Rock

Para quem gosta de: O Terno e Nevilton

Ouça: Objeto Opaco e Não Tem Conversa

/ Por: Cleber Facchi 06/11/2017

O passado sempre foi encarado como um importante componente criativo para os trabalhos da banda paulistana Garotas Suecas. Basta voltar os ouvidos para Escaldante Banda (2010), primeiro álbum de estúdio do grupo – hoje formado por Irina Bertolucci (teclados), Tomaz Paoliello (guitarra), Fernando Perdido (baixo) e Nico Paoliello (bateria) –, e perceber como décadas de referências se agrupam de forma a favorecer a construção de um material que mesmo nostálgico, encanta pelo frescor e fino toque de novidade, principalmente na forma como os versos são apresentados.

Terceiro álbum de inéditas da banda e sucessor do ótimo Feras Míticas (2013), Futuro do Pretérito (2017, Freak) talvez seja o trabalho em que essa relação de temporalidade seja explorada com maior naturalidade. Como indicado no próprio título da obra, trata-se de uma contrastada relação entre antigos e novos valores, conceito reforçado pela ambientação empoeirada do álbum, claramente ancorada no soul-rock-funk dos anos 1960/1970, mas que carrega nos versos um precioso diálogo com o presente, esbarrando em uma série de conflitos atuais, temas políticos e debates sociais.

Perfeita representação desse resultado está na terceira faixa do disco, Não Tem Conversa. Enquanto guitarras, teclados e batidas sutilmente invadem os domínios de Tim Maia na fase Racional (1974), a voz doce de Bertolucci conduz o ouvinte pelo interior da composição, mergulhando em temas como empoderamento feminino, aborto, racismo e os privilégios dos homens brancos. Um cuidado que volta a se repetir próximo ao final do registro, em Angola, Louisiana, um blues melancólico que debate o encarceramento da população negra e as novas formas de escravidão.

Importante reforçar que mesmo a sobriedade evidente que toma conta do disco não oculta instantes de maior leveza e forte diálogo com a música pop. Exemplo disso está na construção de Objeto Opaco, assim como Você Não É Tudo Isso Meu Bem e Ela, do primeiro disco, ou mesmo Charles Chacal, do álbum anterior, uma canção centrada no divertido estudo de um personagem. Versos descomplicados que se conectam diretamente ao rico pano de fundo instrumental da canção, ampliando musicalmente o som que vem sendo explorado pela banda desde a autointitulada faixa de abertura do álbum.

Surgem ainda músicas como a delicada Quarto, um melancólico retrato sobre a solidão e necessidade do eu lírico em se restabelecer sentimentalmente – “E não consigo dar conta / De tudo sozinha / Eu só preciso de você / Aqui, comigo / Alguém que me dê um colo e companhia“. Um som trabalhado de forma propositadamente dolorosa, oposto do pop-rock-ensolarado que marca a derradeira Captei Você, faixa que confessa sentimentos em meio a melodias brandas, lembrando os primeiros anos de Rita Lee em carreira solo – “Te sintonizei na minha estação / Gravei sua frequência no meu coração / Agora se cuida babe, eu captei você“.

Dentro desse pequeno universo de possibilidades, Futuro do Pretérito segue como o trabalho mais completo do Garotas Suecas desde a estreia com Escaldante Banda. Trata-se de uma obra que preserva a essência nostalgia do grupo paulistano, viajando por entre eras de referências e temas instrumentais, porém, carrega na poesia madura de cada composições um importante componente de sustentação. Uma obra que passeia pelo tempo de forma curiosa, atenta, resgatando elementos que mostram a transformação da nossa sociedade nas últimas décadas e temas que ainda parecem presos ao passado.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.