Image
Críticas

Rincon Sapiência

: "Galanga Livre"

Ano: 2017

Selo: Boia Fria Produções

Gênero: Hip-Hop, Rap

Para quem gosta de: Emicida, Rashid e Rael

Ouça: Crime Bárbaro e Moça Namoradeira

8.7
8.7

Resenha: “Galanga Livre”, Rincon Sapiência

Ano: 2017

Selo: Boia Fria Produções

Gênero: Hip-Hop, Rap

Para quem gosta de: Emicida, Rashid e Rael

Ouça: Crime Bárbaro e Moça Namoradeira

/ Por: Cleber Facchi 06/06/2017

Estranho pensar em Galanga Livre (2017, Boia Fria Produções) como o primeiro trabalho de estúdio do paulistano Rincon Sapiência. Basta voltar os ouvidos para a última década e perceber nuances da poesia urbana do artista em diferentes projetos. Da participação no brilhante Non Ducor Duco (2008), de Kamau, passando pela colaboração em obras abertas ao grande público, caso de Projeto Paralelo (2010), do grupo paulistano NX Zero, ou mesmo o recente Oceano (2016), de Nego E, não faltam obras que contam com a forte interferência do rapper.

Desse universo de experiências acumuladas e pequenas colaborações nasce o primeiro registro oficial do artista. Trata-se de uma obra “ancorada” no conto Ambrósio, trabalho que narra história de Galanga, escravo responsável pelo assassinato de um senhor de engenho. Um criativo ponto de partida para a formação de histórias marcadas pelo empoderamento da comunidade negra, debates sobre racismo, libertação, conquistas e relacionamentos que abastecem o trabalho do primeiro ao último verso.

Capangas armados estão a procura / Escravos apanham, meu ato de loucura / Fugido eu tô correndo pela mata / Na pele eu levo a marca da tortura / O crime deixa doido o bagulho / Carrego um pouco de medo e orgulho”, rima em Crime Bárbaro. Um misto de passado e presente, ficção e realidade que mostra como os negros continuam sendo caçados e escravizados diariamente. Estímulo natural para músicas como A Coisa Tá Preta (“Lava a boca pra falar da minha cor”) e Ostentação à Pobreza (“Quem vive na extrema pobreza têm em comum escuro na cor”).

Em Ponta de Lança (Verso Livre), faixa de encerramento do disco, diferentes aspectos da periferia dissecados dentro de uma mesma composição. “Faço questão de botar no meu texto / Que pretas e pretos estão se amando / Quente que nem o conhaque no copo / Sim, pro santo tamo derrubando / Aquele orgulho que já foi roubado / Na bola de meia vai recuperando”, detalha Sapiência em uma extensa massa de versos e rimas que se distancia de um possível refrão. Personagens, histórias e referências que se articulam de forma a contribuir para o rico contexto da obra.

Entre instantes de breve respiro, Sapiência encontra no amor um poderoso componente temático para a construção do trabalho. São faixas como Moça Namoradeira, música que brinca com um sample da cantora pernambucana Lia de Itamaracá – “Ô moça namoradeira, lá na porteira onde os pássaros cantava” –, ou mesmo a dobradinha formada por A Noite é Nossa (“Contando as horas pra te ver, vê se não vai demorar”) e Amores Às Escuras (“Na dança o corpo fala, meu olhar me traduz / E ele tá me dizendo que essa nega seduz”).

Com direção musical e co-produção de William Magalhães (Banda Black Rio), Galanga Livre nasce como um produto das ideias e influências que invadem a mente de Rincon Sapiência. Uma rica tapeçaria de ritmos – rock, R&B, afrobeat, soul e funk –, rimas e fórmulas instrumentais que confirmam a força do artista durante todo o processo de formação do trabalho. São quase duas décadas de experiência que se amarram de forma a orientar um registro guiado pela madura composição dos elementos sem necessariamente perder a jovialidade e frescor dos versos.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.