Resenha: “Gehenna”, Labirinto

/ Por: Cleber Facchi 14/09/2016

Artista: Labirinto
Gênero: Pós-Rock, Pós-Metal, Experimental
Acesse: https://labirinto.bandcamp.com/

Foto: Bianca Paixão

A atmosfera outonal que parecia envolver as composições de Anatema (2010), álbum de estreia da banda paulistana Labirinto, está longe de ser encontrada no obscuro Gehenna (2016, Dissenso). Infernal, caótico e denso, o novo registro de inéditas da banda formada por Muriel Curi, Erick Cruxen, Luis Naressi, Francisco Bueno e Ricardo Pereira cresce de forma sufocante, sempre intenso. Na ausência de palavras, histórias e temas épicos narrados pelas guitarras e batidas fortes que se projetam do primeiro ao último instante da obra.

Com mais de uma hora de duração, o álbum que conta com produção assinada pelo norte-americano Billy Anderson — artista que já trabalhou com nomes como Swans, Red House Painters e Melvins —, mostra o esforço da banda em provar de novas sonoridades, porém, mantendo firme a própria essência musical. Uma madura adaptação de toda a sequência de EPs, singles e obras colaborativas produzidos pelo coletivo nos últimos seis anos.

Como indicado logo no título do trabalho, Gehenna — região localizada no entorno da antiga cidade de Jerusalém e uma das representações bíblicas do inferno católico e judeu — é o ponto de partida para a ambientação caótica e temas soturnos que se cruzam no interior do álbum. Ruídos crescentes, diálogos com a obra de veteranos do sludge/pós-metal — como Isis e Neurosis —, e uma clara tradução instrumental da imagem produzida por Manuel Augusto Dischinger Moura para a capa do disco.

Inaugurado pelo turbilhão de Mal Sacré, uma das composições mais intensas já criadas pelo grupo, o registro de apenas dez faixas lentamente se quebra em uma variedade de novos caminhos e temas instrumentais. São composições montadas de forma a sufocar o ouvinte pelo uso de ruídos e distorções abafadas (Enoch), instantes que esbarram na mesma sonoridade atmosférica do trabalho lançado em 2010 (Locrus), além de faixas que se entregam ao mais completo experimento (Qumran).

Da mesma forma que no trabalho apresentado há seis anos, o novo álbum sustenta em cada composição uma delicada passagem para a faixa seguinte, como se todas as canções estivessem amarradas. Um bom exemplo disso está na construção de Aludra e Alamut. Enquanto a primeira música se espalha preguiçosa, detalhando um melancólico arranjo de cordas, em poucos minutos, a explosão. Batidas, ruídos, texturas e distorções que parecem projetadas de forma a esmagar o ouvinte.

Ainda que seja possível perceber pequenos traços do material produzido pela banda no interior de obras como Kadjwynh (2012) e Labirinto & thisquietarmy EP (2013), sobrevive no parcial ineditismo e na segura condução de cada faixa o grande acerto do álbum. Furioso e sereno, caótico e conciso, Gehenna lentamente se distancia de qualquer caminho ou sonoridade inicialmente apontada pelos integrantes da Labirinto ao final de Anatema.

 

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Gehenna (2016, Dissenso)

Nota: 8.8
Para quem gosta de: Nvblado, E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante e ruído/mm
Ouça: Mal Sacré, Enoch e Alamut

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.