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Críticas

Metá Metá

: "Gira / EP3"

Ano: 2017

Selo: Grupo Corpo / Independente

Gênero: Experimental, Jazz, Afrobeat

Para quem gosta de: Passo Torto e Elza Soares

Ouça: Pé e Odara Elegbara

8.0 / 7.7
8.0 / 7.7

Resenha: “Gira” / “EP3”, Metá Metá

Ano: 2017

Selo: Grupo Corpo / Independente

Gênero: Experimental, Jazz, Afrobeat

Para quem gosta de: Passo Torto e Elza Soares

Ouça: Pé e Odara Elegbara

/ Por: Cleber Facchi 25/10/2017

O chão. O céu. O caos. Do ancestral encontro entre esses três elementos, Juçara Marçal (voz), Kiko Dinucci (guitarra) e Thiago França (saxofone) estabeleceram as regras para compor a trilha sonora do espetáculo Gira, projeto coreografado pelos irmãos Paulo e Rodrigo Pederneiras para o Grupo Corpo, do qual são fundadores. Feito sob encomenda, o trabalho precisou ser feito (e refeito) três vezes pelos integrantes do Metá Metá até ser prontamente finalizado, traduzindo nas batidas, ruídos, vozes a força do mais humano dos orixás, senhor do princípio e da transformação: Exu.

Exu é o orixá mais próximo do nosso plano, dono do corpo, da dança, do movimento. Achamos que caiu como uma luva”, explicou França em entrevista à Revista Trip. De fato, a imposição do ritmo e permanente mutabilidade dos arranjos se revela como o componente central para o permanente crescimento da obra. Entregue ao público poucos meses após o lançamento do terceiro álbum de inéditas do trio paulistano, MM3 (2016), Gira, vai da euforia ao completo silenciamento em instantes, dialogando com o ouvinte para além dos limites do palco.

Ritualístico, o trabalho de 11 faixas e pouco menos de 40 minutos de duração amplia de forma considerável o som que vem sendo explorado pelo trio desde o segundo álbum de inéditas, o caótico Metal Metal (2012). Fragmentos que se agrupam de forma propositadamente anárquica, como uma urgente desconstrução de elementos do jazz clássico, ambientações típicas da cultura/música africana e demais referências que há tempos abastecem o cotidiano dos próprios integrantes da banda. Fugas, brechas, e pequenas rupturas conceituais que provocam a audição do público.

A principal diferença em relação aos últimos trabalhos do Metá Metá, principalmente MM3, está na forma como o trio se concentra em produzir uma obra intensa, mesmo no minimalismo de cada composição. Vozes sobrepostas em , música completa pela breve participação da cantora Elza Soares; ruídos e elementos percussivos em Ogun; o saxofone solitário que corta a atmosfera cinza de Agô Lonan. Um som cru e provocativo, porém, econômico, como uma fuga declarada de possíveis excessos, deixando ao corpo de bailarinos que movimentam o espetáculo a completude dessas pequenas “lacunas”.

Não por acaso, há poucos meses o trio presenteou o público o inédito EP3 (2017), trabalho montado a partir de duas composições produzidas para o repertório de Gira, porém, abortadas pelo explícito distanciamento do restante da obra. De um lado, a construção hipnótica de Odara Elegbara, música guiada em essência pela voz de Marçal e completa pela interferência dos demais colaboradores. Em Ajalayié, uma explosão. Retalhos instrumentais que curiosamente distorcem o conceito minimalista do álbum produzida para o Grupo Corpo, detalhando pinceladas instrumentais, ruídos e vozes de forma abstrata.

Completo pela presença dos músicos Sérgio Machado (bateria, programação e percussão) e Marcelo Cabral (baixo elétrico e acústico), além de conta com versos assinados pelo poeta e artista plástico Nuno Ramos, Gira está longe de ser encarada como uma fuga do universo que vem sendo construído pelo Metá Metá desde o início da presente década. A julgar pela forma como cada integrante testa os próprios limites em estúdio — “O processo foi um grande desafio“, resumiu França –, cada composição, seja parte do espetáculo ou relacionada ao EP paralelo, mostra o esforço da banda em sutilmente ampliar os próprios domínios, provando de novas possibilidades, porém, a todo instante preservando a própria essência.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.