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Críticas

Kacey Musgraves

: "Golden Hour"

Ano: 2018

Selo: MCA Nashville

Gênero: Country, Folk, Pop

Para quem gosta de: Miranda Lambert e Sufjan Stevens

Ouça: Space Cowboy e Love Is a Wild Thing

8.5
8.5

Resenha: “Golden Hour”, Kacey Musgraves

Ano: 2018

Selo: MCA Nashville

Gênero: Country, Folk, Pop

Para quem gosta de: Miranda Lambert e Sufjan Stevens

Ouça: Space Cowboy e Love Is a Wild Thing

/ Por: Cleber Facchi 04/04/2018

Em um intervalo de poucos anos, Kacey Musgraves foi da jovem apaixonada que sussurrava confissões românticas nas canções de Same Trailer Different Park (2013), primeiro álbum de estúdio, para a rainha do baile conceitualmente detalhada no maduro Pageant Material (2015), segundo trabalho de inéditas da cantora. Um misto de passado e presente, fuga do óbvio e permanente busca por uma nova identidade artística, como se a artista de origem texana fosse do folk-rock explorado em meados da década de 1960/1970 ao country pop produzido no começo dos anos 2000.

Terceiro e mais recente álbum de inéditas de Musgraves, Golden Hour (2018, MCA Nashville) – sequência ao material entregue na coletânea natalina A Very Kacey Christmas (2016) –, talvez seja o trabalho em que todo esse conjunto de referências e preferências poéticas/instrumentais se conectam e crescem com maior naturalidade. Um lento desvendar de ideias e tendências que não apenas preserva a essência romântica detalhado nos dois primeiros discos da cantora, como convida o ouvinte a se perder em um mundo de novas possibilidades.

Exemplo disso está no uso de temas eletrônicos que sutilmente invadem o trabalho. São vozes robóticas, como na abertura e fechamento de Oh, What a World, sintetizadores empoeirados ao longo de Lonely Weekend e, principalmente, a busca por um som dançante em High Horse. Pouco mais de três minutos em que o country tradicional se encontra com as pistas e abraça elementos da música disco, transportando público e cantora para um território inusitado quando voltamos os ouvidos para o som originalmente testado em Same Trailer Different Park.

Importante notar que mesmo a parcial mudança de sonoridade em nada interfere no que há de mais sensível no trabalho de Musgraves: as letras. “Você olha pela janela enquanto eu olho para você / Dizendo ‘não sei’ … Você pode ter seu espaço, cowboy / Eu não vou cercar você / Vá em frente, vá embora em sua Silverado“, canta em Space Cowboy, uma dolorosa canção de amor que transporta para dentro do presente cenário toda uma variedade de elementos típicos do cancioneiro norte-americano — como a figura do cowboy, o ambiente isolado e o desencontro dos personagens.

A mesma força avassaladora se reflete em músicas como Love Is a Wild Thing, composição em utiliza de elementos da natureza como estrutura metafórica para a formação dos versos (“Correndo como um rio tentando encontrar o oceano / Flores no concreto / Escalada sobre cercas florescendo nas sombras … O amor é uma coisa selvagem“). Mesmo a curtinha Mother, composta em homenagem à mãe durante uma viagem de LSD, reforça a capacidade de Musgraves em traduzir sentimentos tão complexos de forma sensível e honesta (“Eu fico sentada e pensando sobre como o tempo que está escorregando / Sentindo falta da minha mãe“).

Pop sem necessariamente beber da mesma fonte criativa de nomes comerciais como Taylor Swift, Carrie Underwood, Musgraves segue em uma estrutura própria. Enquanto preserva o folk bucólico que tanto caracteriza o gênero – mergulhando em ambientações acústicas, como nas inaugurais Slow Burn e Butterflies –, perceba como a artista texana se permite provar de novas sonoridades dentro de estúdio. Não por acaso, Golden Hour chega até o público como uma obra guiada pela estrutura versátil dos arranjos e ritmos, porém, coesa na forma como a artista trabalha os próprios sentimentos em unidade, sempre mergulhada em experiências particulares.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.