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Críticas

Cut Copy

: "Haiku From Zero"

Ano: 2017

Selo: Astralwerks

Gênero: Synthpop, Eletrônica

Para quem gosta de: Miami Horror e Washed Out

Ouça: Airborne e Counting Down

6.0
6.0

Resenha: “Haiku From Zero”, Cut Copy

Ano: 2017

Selo: Astralwerks

Gênero: Synthpop, Eletrônica

Para quem gosta de: Miami Horror e Washed Out

Ouça: Airborne e Counting Down

/ Por: Cleber Facchi 27/09/2017

Se você já fez o exercício de revisitar toda a discografia do Cut Copy, começando pelo colorido nostálgico de Bright Like Neon Love (2004), sabe que em algum momento entre Zonoscope (2011) e Free Your Mind (2014), o coletivo australiano começou a se perder. Longe das camadas e ambientações dançantes que deram vida ao clássico In Ghost Colours (2008), um dos trabalhos mais importantes da recente música australiana, o grupo original de Melbourne começou a sufocar em um oceano de pequenas repetições e músicas pouco inspiradas.

Vindo em sequência ao experimental January Tapes (2016), EP de seis faixas instrumentais, Haiku From Zero (2017, Astralwerks), quinto registro de inéditas da banda, talvez seja o trabalho em que todos esses problemas gritam de maneira explícita. Trata-se de uma clara tentativa da banda em replicar o mesmo colorido neon dos dois primeiros álbuns de estúdio, porém, focando na construção de um som estéreo, livre dos arranjos encorpados que brilham com maior naturalidade em composições icônicas como Hearts On Fire e Light & Music.

Um bom exemplo disso está na inaugural Standing In The Middle of The Field, composição que passeia pela década de 1980 de forma propositadamente nostálgica, acertando na cadência das batidas e temas tropicais, porém, tropeçando na fina base de sintetizadores que se espalham ao fundo da canção. Um resumo óbvio do material que chega logo em sequência com faixas como No Fixed Destination e Memories We Share, composições que soam como uma versão pobre do material produzido pela banda no pop dançante de Zonoscope.

Claro que nem tudo são erros em Haiku From Zero. Dominada por boas guitarras, Counting Down preserva a essência da banda australiana e, ao mesmo tempo, tinge com novidade o trabalho, distanciando o ouvinte da massa redundante de temas eletrônicos que perfumam o disco. Composição escolhida para apresentar o disco, Airborne é outra que encanta logo na primeira audição. Uma clara tentativa do Cut Copy em flertar com elementos do soul/funk dos anos 1970, conceito reforçado nas guitarras que crescem durante toda a execução da faixa, lembrando um remix torto do Daft Punk na fase Random Access Memories.

Quarta faixa do disco, Stars Last Me a Lifetime acerta pela forma como o grupo brinca com o uso de diferentes camadas, detalhando sintetizadores melancólicos e dançantes na mesma medida. Surgem ainda guitarras enérgicas e melodias que esbarram na boa fase de In Ghost Colours, garantindo novo impulso ao disco. Mesmo lidando com uma série de clichês e elementos há muito explorados pelo grupo, como uma canção resgatada de um antigo projeto, Living Upside Down é outra que seduz com naturalidade.

Entretanto, detalhado como uma vidente continuação do material que vem sendo produzido pela banda desde o início da carreira, Haiku From Zero parece menor a cada audição, incapaz de estabelecer uma possível conexão com o ouvinte. Não há nada aqui que não possa ser encontrado e explorado de forma bem-sucedida nos primeiros discos da banda, como se o grupo de Melbourne fosse incapaz de ir além de uma previsível zona de conforto, tornando incerto o futuro e possível relevância do projeto, pelo menos dentro de estúdio.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.