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Críticas

Smerz

: "Have Fun"

Ano: 2018

Selo: XL Recordings

Gênero: Pop, R&B, Eletrônica

Para quem gosta de: Yaeji e Jessy Lanza

Ouça: Oh My My e Worth It

8.0
8.0

Resenha: “Have Fun”, Smerz

Ano: 2018

Selo: XL Recordings

Gênero: Pop, R&B, Eletrônica

Para quem gosta de: Yaeji e Jessy Lanza

Ouça: Oh My My e Worth It

/ Por: Cleber Facchi 14/03/2018

Na contramão de outros representantes do pop/R&B atual, Catharina Stoltenberg e Henriette Motzfeldt passaram os últimos meses trabalhando na composição de um universo particular, torto e conceitualmente restrito. Ideias e fragmentos instrumentais explorados de forma sempre minimalista, sensível, estímulo para o fortalecimento de músicas como Because, Sure e todo o fino repertório detalhado pela dupla norueguesa sob o título de Smerz.

Em Have Fun (2018), segundo e mais recente EP de inéditas com distribuição pelo selo XL Recordings — casa de Ibeyi, Jai Paul e Adele —, é onde todas essas experiências conceituais alcançam melhor refinamento artístico. Trata-se de uma obra essencialmente desafiadora e experimental quando exige ser. Ruídos eletrônicos e vozes carregadas de efeitos que convidam o ouvinte a provar do pop robótico que vem sendo testado pelas duas artistas desde o início da carreira.

Não por acaso, Stoltenberg e Motzfeldt escolheram justamente a instável Worth it como faixa de abertura do trabalho. São quase quatro minutos em que o ouvinte é convidado a se perder em um território marcado pela completa incerteza dos elementos. Bases metálicas, batidas densas e vozes digitalizadas que se projetam lentamente, sem pressa. Um misto de desconforto e completo acolhimento, como se o ouvinte fosse testado a todo momento pelo duo norueguês.

Interessante perceber que o mesmo conceito provocativo acaba se refletindo inclusive nas canções mais acessíveis do disco. Conhecida do público fiel da dupla, Oh My My talvez seja a melhor representação desse resultado. Entre versos sussurrados e sintetizadores mágicos, Stoltenberg e Motzfeldt convidam o ouvinte a se perder em um mundo de sonhos e exaltações românticas, porém, a todo instante regressam ao mesmo território urbano e sujo de nomes como Burial.

O mais curioso talvez seja perceber que mesmo no completo reducionismo de faixas como Girl 2 e a conhecida Half Life, a dupla em nenhum momento parece economizar na inserção de detalhes preciosos. São retalhos instrumentais, batidas, fragmentos de vozes e pinceladas etéreas que transformam o EP de apenas oito músicas em uma obra maior. Um universo de pequenos detalhes que cresce mesmo nos instantes mais acessíveis do disco, como no pop adolescente de Bail on Me.

Provocativo, Have Fun mostra o esforço de Stoltenberg e Motzfeldt em perverter o óbvio de forma sempre autoral e curiosa. Difícil não lembrar de nomes como Yaeji, Kedr Livanskiy, Jessy Lanza e demais representantes da presente cena eletrônica. Artistas, assim como a dupla norueguesa, inclinadas ao completo resgate de uma série de elementos originalmente marcados pelo pop tradicional, porém, dentro de uma linguagem própria.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.