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Críticas

Colin Stetson

: "Hereditary"

Ano: 2018

Selo: Milan Records

Gênero: Jazz, Experimental, Ambient

Para quem gosta de: The Haxan Cloak e Tim Hecker

Ouça: Funeral e Leigh's Theme

8.0
8.0

Resenha: “Hereditary”, Colin Stetson

Ano: 2018

Selo: Milan Records

Gênero: Jazz, Experimental, Ambient

Para quem gosta de: The Haxan Cloak e Tim Hecker

Ouça: Funeral e Leigh's Theme

/ Por: Cleber Facchi 26/06/2018

Quem há tempos acompanha o trabalho de Colin Stetson sabe da capacidade do jazzista norte-americano em transportar o ouvinte para dentro de um território essencialmente sombrio, denso. Basta um rápido passeio por toda a sequência de obras produzidas pelo músico nos últimos anos, como New History Warfare Vol. 3: To See More Light (2013), SORROW: A Reimagining of Henryk Górecki’s 3rd Symphony (2016) e o mais recente deles, o experimental All This I Do for Glory (2017).

Um som minucioso, sempre invasivo, cuidado que se reflete não apenas em obras autorais de Stetson, mas, principalmente, em toda a série de trilhas sonoras produzidas para diferentes documentários e obras de ficção. De trabalhos premiados, como 12 anos de escravidão (2013), passando por programas de TV, caso das séries The Blacklist e a recente Philip K. Dick’s Electric Dream, sobram projetos que indicam a força criativa e propositada tensão imposta pelo saxofonista.

Não por acaso, Stetson foi a primeira escolha do jovem diretor Ari Aster para assumir a trilha sonora do terror Hereditário (2018). Da abertura do filme, com a crescente Funeral, passando pela estrutura crescente de Party, Crash e o desfecho místico anunciado na delicada Reborn, cada elemento do material entregue pelo jazzista se projeta como um componente fundamental para o fortalecimento das imagens e narrativa angustiante que rege a história.

Pensado para além dos limites da tela, o trabalho de Stetson parece jogar de forma inteligente com a tensão das formas instrumentais. São instantes de breve recolhimento, por vezes acolhedores, mas que logo conduzem o ouvinte para dentro de uma verdadeira espiral de temas ruidosos, essencialmente insanos. Difícil não lembrar do material produzido por Disasterpeace para a trilha sonora do filme A Corrente do Mal (2015), efeito da permanente sensação de desespero que acompanha o ouvinte.

O mais interessante talvez seja perceber como Stetson lida com a construção de vinhetas e porções menores do trabalho. São músicas como Book Burning, Get Out e os três atos de Second Séance em que o saxofonista vai do breve silenciamento à explosão em um intervalo de poucos segundos. Frações do profundo esmero do artista e, ao mesmo tempo, um preparativo para a construção de atos extensos, como na perturbadora Leigh’s Theme e Steve.

Invasiva, a trilha de Hereditário está longe de parecer um ato isolado na discografia de Stetson, pelo contrário, é parte fundamental dela. Em um intervalo de mais de 70 minutos de duração, cada elemento do disco parece jogar com a experiência do ouvinte. São ambientações claustrofóbicas e melodias sujas que dialogam com toda a série de obras produzidas pelo músico desde o amadurecimento criativo em New History Warfare Vol. 2: Judges (2011).

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.